A presente publicação reúne 14 artigos apresentados no 8.° Encontro de Economia Gaúcha (EEG), realizado nos dias 19 e 20 de maio de 2016. Em sua oitava edição, o EEG consolidou-se como um espaço privilegiado de debate sobre a economia gaúcha. O encontro ocorre a cada dois anos e congrega professores, alunos e pesquisadores das diversas instituições públicas e privadas do RS. A cada edição são apresentados trabalhos que estimulam a realização de debates e refletem a diversidade da investigação científica sobre os problemas socioeconômicos do RS.
O Encontro de Economia Gaúcha é organizado em parceria pela Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser (FEE) e pela Pontifícia Universidade Católica do Estado do Rio Grande do Sul (PUCRS). Desde sua criação, a FEE vem produzindo estudos, análises, indicadores e índices que auxiliam a entender a realidade socioeconômica do RS. Esses produtos, elaborados tanto por iniciativa da Fundação quanto por demandas de gestores estaduais, são divulgados regularmente em publicações impressas e online.
Os pesquisadores da FEE estabelecem parcerias com outras instituições para a construção de indicadores, a elaboração de pesquisas e a organizações de eventos. Este é o caso do EEG que teve início em 2002 com parceria do Programa de Pós-Graduação em Economia do Desenvolvimento da PUCRS. O EEG tem por objetivo de promover e estimular o debate sobre os diversos aspectos do desenvolvimento do estado.
A presente obra está dividida em 14 artigos, os quais contemplam uma diversidade de temas de grande importância para o desenvolvimento socioeconômico do estado. O comportamento da atividade industrial é analisado em dois artigos. No primeiro, examina-se a contribuição dos setores produtivos para o crescimento da economia gaúcha, utilizando a Matriz de Insumo-Produto (MIP) de 2008, calculada pela FEE. A aplicação dessa metodologia possibilita verificar os encadeamentos setoriais e seus efeitos multiplicadores de impacto na economia. Tais informações constituem-se em importante ferramenta para
o planejamento governamental.
O segundo artigo trata da desindustrialização, tema de pesquisa de estudiosos das diversas correntes de pensamento econômico. Nesse artigo, os autores buscam examinar se a economia gaúcha passou por um processo de desindustrialização ao longo do período 1998-2013, verificando os fluxos de comércio industriais do Estado. Nessa análise, são utilizados os coeficientes de Penetração das Importações (CPM) e de Exportações (CX), para a indústria total e por fator agregado (manufaturados e
semimanufaturados).
A questão logística é tratada em um artigo que destaca a necessidade de investimentos em infraestrutura de transporte no Rio Grande do Sul. Nessa análise, são examinadas as relações teóricas e empíricas do impacto dos investimentos em infraestrutura de transporte (melhorias em modais rodoviário, ferroviário, aeroviário e hidroviário) sobre o desenvolvimento econômico regional, considerando o estágio atual dessa infraestrutura. Os autores enfatizam, ainda, a importância da construção de um Plano Estadual de Logística de Transportes (PELT/RS).
O desenvolvimento regional é tema de dois artigos que são apresentados em sequência. No primeiro, são avaliados o espaço e sua importância para o crescimento do PIB per capita do Estado do Rio Grande do Sul no período 2000-10, em nível municipal, utilizando o método do filtro espacial. Nessa análise, as autoras realizam uma estimação em cross-section baseada nos modelos neoclássicos de crescimento discutidos em Barro (1991), Sala-i-Martin (1996) e Temple (1999), justificada pelo objetivo de eliminar a dependência espacial dos dados.
O segundo artigo tem como objetivo investigar a dinâmica da estrutura produtiva do Vale do Taquari no período de 1985-2014, mediante a análise da geração do Valor Adicionado Bruto (VAB) por setor da atividade produtiva e da distribuição do emprego regional, utilizando a classificação por setor da atividade do Instituto brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para identificar a existência ou não de setores especializados, os autores utilizam o método do Quociente Locacional (QL).
No artigo Igualdade de oportunidades e estrutura produtiva: uma análise exploratória para o Rio Grande do Sul, os autores retomaram a temática da desigualdade — sociais, nacionais e regionais —, partindo das críticas já realizadas sobre a insuficiência de análises baseadas apenas na renda como indicador de desigualdades. Retomando leituras de Amartia Sen, os autores utilizam a teoria da Igualdade de Oportunidades proposta por John Roemer e de Índices de Desigualdade de Oportunidades (IOp). A capacidade de inovação do Estado do RS é avaliada pela distribuição espacial do potencial de inovar na região. Para tanto, foi elaborado um indicador territorial para identificar a rede das cidades mais propensas às atividades de inovação no ano de 2012.
O artigo Distribuição espacial e efeitos de transbordamentos setor agropecuário no Rio Grande do Sul tem como objetivo analisar a distribuição espacial do setor agropecuário no RS, entre os 597 municípios gaúchos e seus transbordamentos para os municípios vizinhos. Para tanto, são utilizados modelos de dependência espacial. Nessa análise, realizada para o período 2004-11, aos autores utilizaram o VAB, como variável dependente, e a ocupação por hectare, tratores por hectare, o número de estabelecimentos rurais e a educação como variáveis independentes.
As mudanças na estrutura da população e seus impactos econômicos e sociais sobre as 35 microrregiões do RS é a preocupação do artigo Transição demográfica e educação no Rio Grande do Sul. Utilizando dados secundários obtidos junto ao IBGE e à Fundação de Economia e Estatística, para os anos de 2000 e 2010, os autores buscam examinar como está evoluindo a transição demográfica no RS e também como esse processo afeta a demanda por vagas do sistema educacional.
As agências reguladoras municipais, sobretudo às relativas à oferta de água potável e/ou saneamento básico e serviço de transporte urbano, são analisadas no artigo Agências reguladoras municipais e desenvolvimento regional, que busca avaliar o nível de independência das agências reguladoras municipais e suas contribuições para o desenvolvimento regional e se aquelas se constituem em uma forma de governança que, de fato, impulsiona o desenvolvimento regional.
A situação fiscal do Estado do Rio Grande do Sul é o tema dos dois artigos seguintes. O primeiro tem como objetivo analisar a própria situação fiscal do Estado em relação aos demais estados brasileiros no período 2006-13, utilizando as metodologias de índices compostos de Gobetti e Klering e de Norcross. O segundo artigo analisa o comportamento do Imposto sobre Heranças e Doações (ITCD) no RS, implantando em 1989, e o seu papel como instrumento gerador de maior captação de receitas, o que certamente é bem-vindo em um momento de extrema restrição fiscal. Os autores utilizam como referência teórica as
teorias da renda definida pelo acréscimo de riqueza líquida e a da tributação equitativa.
No artigo As pressões da produção do pré-sal brasileiro sobre o setor de refino nacional e os efeitos nas refinarias do Rio Grande do Sul, os autores avaliam a capacidade de refino nacional e do Estado do Rio Grande do Sul, em particular, em um cenário de aumento da produção de petróleo brasileiro que ocorreria com a entrada do pré-sal.
No último artigo deste livro, Em busca das seletividades na vazante: o perfil dos desligados do mercado formal de trabalho da RMPA em 2015, o autor analisa a evolução do emprego formal na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) no ano de 2015, utilizando dados do Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS). Esse ano marca o retorno do crescimento das taxas de desemprego e uma variação negativa do número absoluto de postos de trabalho com registro formal.
O conjunto de temáticas exploradas na presente obra evidência a complexidade das questões para a análise da economia gaúcha, bem como para a busca do desenvolvimento econômico e social. No momento em que esta obra é publicada, em junho de 2017, a atividade de pesquisa científica do Rio Grande do Sul encontra-se ameaçada pela proposta de desconstituição das instituições de pesquisa estaduais, dentre elas a FEE. Esse fato tem o potencial de comprometer a capacidade do Estado de protagonizar ações em prol de seu desenvolvimento sustentável. Já foi dito que o futuro pertencerá aos que se preparam para ele. Esperemos que o Rio Grande do Sul não reduza sua produção científica e que siga consciente de que a complexidade de seus desafios socioeconômicos exige conhecimento, pois, sem conhecimento, não há futuro.
A economia gaúcha e seus setores-chave: uma análise dos multiplicadores de insumo-produto — Henrique Morrone
Desindustrialização na economia gaúcha: evidências a partir de indicadores de orientação externa — Reisoli Bender Filho e Daniel Arruda Coronel
Infraestrutura de transportes no Rio Grande do Sul e desenvolvimento regional — Rodrigo da Rocha Gonçalves, Jacó Braatz e Gustavo Inácio de Moraes
Uma análise dos determinantes do crescimento dos municípios gaúchos utilizando o método de filtro espacial — Marivia de Aguiar Nunes e Camila Vogt
Análise da dinâmica da estrutura produtiva do Corede Vale do Taquari no período de 1985 a 2014 — Júlia Elisabete Barden, Fernanda Cristina Wiebusch Sindelar e Gustavo Rodrigo da Silva
Igualdade de oportunidades e estrutura produtiva: uma análise exploratória espacial para o Rio Grande do Sul — Willian Boschetti Adamczyk e Adelar Fochezatto
Inovação no Rio Grande do Sul: distribuição espacial do potencial de inovação — Iván G. Peyré Tartaruga
Distribuição espacial e efeitos de transbordamentos do setor agropecuário no Rio Grande do Sul — Célio Alberto Colle, Paulo Henrique de Oliveira Hoeckel, Augusto Mussi Alvim e Adelar Fochezatto
Transição demográfica e educação no Rio Grande do Sul — Keyla Alves Klimeck, Cristiéle de Almeida Vieira e Pascoal José Marion Filho
Agências reguladoras municipais e desenvolvimento regional — Silvio Cezar Arend e Pery Francisco Assis Shikida
Qual é a situação fiscal do RS em relação aos demais estados brasileiros? — Liderau dos Santos Marques Junior e Fernando Ioannides Lopes da Cruz
A tributação das heranças no RS: fonte de receita ou de justiça social? — Eugenio Lagemann e Natália Branco Stein
As pressões da produção do pré-sal brasileiro sobre o setor de refino nacional e os efeitos nas refinarias do Rio Grande do Sul — Raíssa Fernandes Yabiko, Gustavo Medeiros Pereira e Rosemarie Bröker Boner
Em busca das seletividades na vazante: o perfil dos desligados do mercado formal de trabalho da RMPA em 2015 — Guilherme G. de F. Xavier Sobrinho