Crescimento da agropecuária faz com que a queda do PIB do RS seja menor que a do PIB do Brasil em 2015

A Fundação de Economia e Estatística (FEE) divulga os dados da nova série (Referência 2010) do Produto Interno Bruto (PIB) Trimestral do Rio Grande do Sul (RS) para o quarto trimestre de 2015, a reestimação dos dados trimestrais de 2011 a 2015. Essa nova série incorpora, entre outros aperfeiçoamentos, as mudanças metodológicas realizadas nas Contas Nacionais, Trimestrais e Regionais no ano passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A partir dessas mudanças, é possível voltar a realizar a comparação desses resultados com os estimados pelo IBGE para o Brasil.

Mudanças metodológicas no PIB Trimestral do RS

Em 2015, o IBGE divulgou as novas séries do PIB Nacional, Trimestral e Regional (Referência 2010), incorporando diversas mudanças conceituais e metodológicas, com a finalidade de aperfeiçoar a aferição dos resultados econômicos do País. Como a série regional foi calculada para os anos de 2010 a 2013, a estimação de índices dessazonalizados e o cálculo das taxas contra os trimestres imediatamente anteriores não foram realizados, já que a série é muito curta.

Dentre as mudanças metodológicas realizadas no PIB Trimestral do RS, destacam-se, por seu impacto nos resultados finais divulgados, as seguintes:

–  na agropecuária, com base no Censo Agropecuário de 2006, os indicadores das atividades agropecuárias passaram a ser calculados como a média dos produtos que as compõem, e não a partir de seu produto principal, como ocorria na série antiga;

–  na energia elétrica, foram incorporados os dados de geração de energia elétrica na estimação dos indicadores;

–  na construção, no comércio, na intermediação financeira e na administração pública, passou-se a utilizar novas fontes e novos procedimentos para a estimação dos indicadores;

–  na estimação dos preços, foi construída uma nova matriz de preços para a economia do RS, com base na Tabela de Recursos e Usos (TRU), elaborada com a Matriz de Insumo Produto (MIP) do RS de 2008;

–  na agregação dos resultados, passou-se a utilizar uma estrutura idêntica à utilizada pelo IBGE nas Contas Nacionais Trimestrais.

 

Crescimento do PIB gaúcho em 2015

No quarto trimestre de 2015, a taxa acumulada ao longo do ano do PIB Trimestral do RS teve uma redução de 3,4%. Em sua composição, os impostos caíram 8,0%, e o Valor Adicionado Bruto (VAB) reduziu-se em 2,7%. A agropecuária foi a única grande atividade com taxa positiva no período (13,6%), com a indústria caindo 11,1% e com os serviços diminuindo 2,1%.

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Resultado do quarto trimestre do ano

No quarto trimestre de 2015, contra igual trimestre do ano anterior, o PIB do Rio Grande do Sul apresentou uma taxa negativa de 6,3%.

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Observando-se os últimos cinco trimestres, a sequência de aumento nas taxas trimestrais negativas foi interrompida apenas pela taxa levemente positiva do segundo trimestre de 2015 (0,6%), trimestre este em que se concentraram os efeitos do crescimento da atividade agropecuária no ano. Entretanto esse resultado foi incapaz de reverter a sucessão de taxas negativas acumuladas ao longo do ano, e também das acumuladas nos últimos quatro trimestres, observadas desde o quarto trimestre de 2014.

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O último resultado significativamente positivo no indicador trimestral ocorreu há oito trimestres, no primeiro trimestre de 2014, com um crescimento de 3,4%. Esse desempenho caracteriza o quadro recessivo pelo qual passa a economia gaúcha. Além disso, a taxa de -6,3% do quarto trimestre de 2015 é a maior queda no indicador trimestral desde o segundo trimestre de 2012, quando a agropecuária gaúcha sofreu as consequências de uma severa estiagem e o PIB caiu 6,6% ante o segundo trimestre de 2011.

Destaques setoriais do ano

Os dois componentes da taxa trimestral do PIB tiveram taxas negativas, mas, enquanto o VAB diminuiu 2,7%, a taxa de crescimento em volume dos impostos sobre produtos caiu mais que o dobro do VAB da economia (-8,0%). Essa diferença entre as taxas reflete a maior incidência dos impostos sobre produtos majoritariamente na indústria e em alguns segmentos dos serviços, com uma menor arrecadação na agropecuária. Em 2015, a contribuição dos impostos na taxa do PIB acumulada ao longo do ano foi negativa em 1,1 ponto percentual, o que representa 32% da queda na taxa do PIB.

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O crescimento de 13,6% do VAB da agropecuária gaúcha foi causado pelo bom desempenho tanto da agricultura como da pecuária. Além de contar com condições meteorológicas positivas para os segmentos de maior expressão, fatores econômicos incidentes (desvalorização do real e exportações) também ajudaram no resultado. Como única grande atividade com taxa positiva, o efeito do crescimento da agropecuária foi fundamental para amenizar a queda da economia do Estado. Como a contribuição do setor agropecuário para a taxa do PIB foi de 1,2 ponto percentual positivo, caso houvesse um crescimento nulo do setor em 2015, haveria uma queda de mais 35% da taxa do PIB no ano.

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Foi fundamental para o bom desempenho do setor agropecuário do RS a excelente safra da soja de 2015. Realizado sobre um alto nível de produção de 2014, o crescimento de 20,4% na colheita da leguminosa foi resultado do aumento tanto da área (5,6%) quanto da produtividade (14,1%). Podem-se elencar como elementos que propiciaram esse desempenho da soja a continuidade de bons preços em reais e as condições climáticas adequadas. Já o destaque negativo na agricultura em 2015 ficou para a safra do trigo. Depois de um desempenho bastante positivo em 2013, o cereal apresentou, em 2015, o segundo ano consecutivo de queda (-16,7%), devido à redução da área e às condições climáticas desfavoráveis. Mesmo com ganhos de produtividade (12,5%), problemas com a rentabilidade (custos elevados em relação aos preços recebidos) foram responsáveis pela redução da área (-25,3%) destinada à cultura em 2015.

Se na agropecuária as duas grandes atividades tiveram um desempenho positivo, no caso da indústria seus quatro segmentos contribuíram negativamente para os -11,1% do setor em 2015. Lideradas pela indústria de transformação, que caiu 13,5%, construção (-6,6%) e indústria extrativa (-5,2%) também tiveram reduções significativas. A queda de 0,8% na atividade de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana foi mais leve. Com a maior taxa negativa entre as grandes atividades, a indústria contribuiu com -2,3 pontos percentuais na queda do PIB do RS em 2015, ou 68% da taxa negativa.

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O resultado da indústria de transformação em 2015 foi basicamente determinado pelo complexo metal-mecânico (metalurgia, produtos de metal, máquinas e veículos), e deste, por sua importância na estrutura do valor agregado, no emprego, na distribuição regional e nas ligações intersetoriais, destaca-se a queda de 27,4% da atividade de fabricação de máquinas e equipamentos. Resultado da continuidade da queda dos investimentos na economia nacional e da redução das linhas de crédito para o setor, os elementos determinantes de seu desempenho encontram-se fora da economia estadual. Como destaque positivo na indústria de transformação, tem-se o crescimento de 72,9% da fabricação de celulose e derivados, decorrente do início da operação de uma nova planta industrial com a destinação de sua produção para a exportação.

Devido à sua heterogeneidade, o setor serviços foi, em 2015, o que apresentou o resultado mais diverso. Das sete atividades que o compõem, quatro tiveram taxas acumuladas positivas — atividades imobiliárias (1,9%), intermediação financeira (1,5%), serviços de informação (0,5%) e outros serviços (0,2%) —, e três foram negativas — comércio (-10,3%), transporte (-1,7%) e administração pública (-0,1%). O resultado do setor serviços, de -2,1%, foi melhor que o do VAB total (-2,7%), mas devido ao seu tamanho dentro do PIB do RS, contribuiu com -1,2% ponto percentual da taxa acumulada do ano de 2015, representando 35% do total da queda na taxa do PIB.

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Por sua importância estrutural, seu significado na economia e a dimensão de sua queda, a redução de 10,3% do comércio destaca-se no setor serviços. Após uma sequência de sete taxas trimestrais negativas, seu desempenho acumulado em 2015 foi marcante. O grande destaque negativo do comércio foi a venda de veículos, com uma redução de 27,9% em relação a 2014. Aumento do desemprego, redução dos rendimentos reais e deterioração das condições de crédito (aumento dos juros e da inadimplência) foram os elementos explicativos preponderantes na queda da atividade no Estado. A única atividade comercial que manteve desempenho positivo foi a de artigos farmacêuticos e cosméticos, que cresceu 1,4% em 2015. Tal resultado é decorrente da maior essencialidade de seus bens, menos sensíveis às variações na renda e nas condições de crédito, e da mudança demográfica, com o aumento da idade média da população.

RS na economia nacional, resultados nominais e PIB per capita

A queda no PIB do RS (-3,4%), em 2015, foi levemente menor que a do Brasil (-3,8%). A diferença foi um pouco maior no VAB (-2,7% contra -3,3%), mas os impostos no RS caíram mais que no Brasil, -8,0% ante -7,3%. Essa composição é explicada pelo maior crescimento na agropecuária do RS (13,6%) que na do Brasil (1,8%), pela menor queda nos serviços no Estado (-2,1%) frente aos do Brasil (-2,7%) e pela queda significativamente maior na indústria do Estado (-11,1%) quando comparada à indústria nacional (-6,2%).

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No País, a indústria extrativa, que possui participação significativa no VAB industrial, obteve crescimento positivo (4,9%), enquanto, no RS, onde é pouco expressiva, decaiu (-5,2%). No setor serviços, apesar de o comércio ter caído menos no Brasil (-8,9%) que no Estado (-10,3%), com a exceção da administração pública, todas as demais atividades obtiveram taxas menores no País que no RS.

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Comparando as taxas de crescimento do Brasil e do RS acumuladas nos últimos quatro trimestres, a partir do quarto trimestre de 2011 até o quarto trimestre de 2015, pode-se observar que, no RS, os anos de 2012 e 2013 foram marcados pela queda decorrente da estiagem e posterior recuperação. Em 2014, houve uma queda mais acentuada no Estado que no País, causada pela redução no investimento nacional que impactou mais fortemente a economia gaúcha. E, em 2015, o desempenho do RS seguiu a tendência nacional, pontuado pelo crescimento da agropecuária no segundo trimestre.

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Apesar de não ser possível realizar uma comparação direta entre as taxas de crescimento anuais estimadas pelas diversas unidades da Federação devido ao uso de metodologias distintas, pode-se observar — da amostra de nove estados que divulgaram suas taxas de crescimento para 2015, além do RS — que a recessão é um fenômeno nacional e atinge mais gravemente os estados onde está localizada a maior parte da indústria de transformação.

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A composição do Produto Interno Bruto a preço de mercado reflete, em grande medida, as modificações de preço na economia. No caso do RS, em 2015, observa-se um impacto significativo do reajuste das tarifas elétricas, do aumento do preço da gasolina e da desvalorização cambial. Destaca-se o pequeno crescimento nominal, 1,1%, dos impostos sobre produtos, líquidos de subsídios. Comparando o resultado a preço de mercado do PIB Trimestral do RS com o do PIB nacional divulgado nas Contas Nacionais Trimestrais, a participação da economia gaúcha no País passou de 6,3% em 2014 para 6,6% em 2015. Explica esse resultado, além das mudanças de preço elencadas acima, a maior redução nos preços dos minerais do que das commodities agrícolas no mercado internacional.

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O Produto Interno Bruto per capita do RS teve a segunda redução seguida em 2015, -3,7%, refletindo o fato de que um menor volume de produção está sendo dividido por uma população maior. Já na comparação com o PIB per capita nacional, a razão entre o RS e o Brasil passou de 1,15 para 1,20, devido à menor queda no PIB, às modificações nos preços relativos e ao menor crescimento populacional no Estado que no Brasil.

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Núcleo de Contas Regionais/Centro de Indicadores Econômicos e Sociais