Reflexos do Brexit para a economia gaúcha e desigualdades da representação parlamentar são destaques da Carta de Conjuntura FEE de agosto

Nesta terça-feira, 09, a Fundação de Economia e Estatística (FEE) divulgou a Carta de Conjuntura do mês de agosto. Os destaques da edição são os desdobramentos da saída do Reino Unido do bloco europeu e as desigualdades da representação política no parlamento brasileiro e no acesso à saúde.

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Coletiva da Carta de Conjuntura de agosto, apresentada pelo economista Vanclei Zanin

O pesquisador em economia da FEE, Alessandro Donadio Miebach e o pesquisador  em Relações Internacionais, Bruno Jubran, analisam no artigo O que esperar do Brexit os  impactos econômicos e políticos da decisão do Reino Unido e os reflexos para o Brasil e especificamente para o nosso Estado. “Para o Rio Grande do Sul, o Brexit poderá impactar diretamente as exportações oriundas do Estado para o Reino Unido, e, indiretamente, as exportações para a UE. Conforme o SisEx-FEE, em 2015, as exportações gaúchas para a UE totalizaram 2,5 bilhões de dólares (14,5% do valor total exportado pelo Estado). Deste total, 93,8 % correspondeu a produtos da indústria de transformação, mantendo-se o padrão observado na série história de exportações iniciada em 2007. As exportações para o Reino Unido comportam-se de forma idêntica às exportações para a UE, com elevada concentração de produtos da indústria de transformação”, explicam. De acordo com os pesquisadores, as instabilidades políticas e seus reflexos nos fluxos comerciais intrabloco podem impactar a atividade industrial gaúcha diretamente, bem como provocar disfunções em outros mercados atendidos pela produção local.  “A preservação da estabilidade política e econômica na União Europeia, configura-se no melhor cenário para as exportações gaúchas”, afirmam Miebach e Jubran.

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Bruno Jubran apresenta análise sobre reflexos do Brexit

Já no artigo da contracapa, Desigualdades da Representação Política Parlamentar, o cientista político Augusto N. C. de Oliveira aponta a desigualdade do acesso à representação parlamentar em âmbito municipal, estadual e federal no Brasil. Com base no levantamento da Inter-Parliamentary Union, do TSE e do Censo 2010, o pesquisador evidencia a sub-representação feminina, da população negra e de amplas categorias de trabalhadores em relação à sua presença na sociedade. A atual legislatura da Câmara dos Deputados conta com apenas 10% de mulheres entre os parlamentares. Na bancada gaúcha foi eleita somente uma mulher, a Deputada Maria do Rosário. Na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, apenas sete (13%) são mulheres e nas Câmaras de Vereadores o índice de representação feminina atinge, em média, 14% das vagas disponíveis em cada casa. Já no caso da população negra, embora o índice some 51% dos brasileiros, a representação na Câmara Federal chega a apenas 20%. Nenhum destes é membro da bancada gaúcha. “A desigualdade descritiva da representação política poderia ser considerada um problema não tão grave caso as eleições garantissem que os eleitos respondessem às ideias e opiniões dos eleitores”, pondera o pesquisador. No entanto, o autor  sublinha a crise dos partidos políticos no Brasil.: “o sistema partidário brasileiro se tornou um dos mais fragmentados do mundo e o principal sentimento que as agremiações despertam nos cidadãos é a desconfiança”.

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Augusto Oliveira analisou as desigualdades da representação política parlamentar no Brasil

A Carta de Conjuntura FEE de agosto também analisa as Desigualdades no acesso à saúde, da estatística Marilyn Agranonik. O estudo mostra que o SUS tem aumentado a sua participação nos últimos anos como fonte de financiamento dos serviços de saúde utilizados, passando de 48,8%, para 59,4%, nesse período no Brasil, e de 50,% para 56,6% na região Sul.Dentre os dados que chamam a atenção, estão os que referem as taxas de não-atendimento. O Rio Grande do Sul é o estado com menor índice, em torno de 1% de pacientes que procuram serviços de saúde e não conseguem ser atendidos. Comparando as regiões, estados onde existe maior desigualdade registram a maior proporção de atendimento pelo SUS. Norte e Nordeste chegam a quase 70% dos atendimentos em saúde pelo SUS, enquanto no RS esse índice gira em torno de 55%. Contudo, apesar da maior universalização e equidade, a pesquisadora observa que persistem desigualdades na oferta de recursos e serviços, principalmente em função da posição social dos indivíduos. “Ainda persistem problemas relacionados à organização da oferta de serviços de saúde (disponibilidade de médicos, hospitais, acesso geográfico, tipo de financiamento); às necessidades de saúde (morbidade, gravidade e urgência da doença) e aos usuários (idade, sexo, educação, região de moradia)”, revela.

Esta edição conta ainda com os seguintes temas:

Sandra Bitencourt- Jornalista