Panorama Internacional FEE discute os 25 anos do Mercosul

Nesta quinta-feira (3), foi lançada a nova edição do Panorama Internacional FEE. O tema em discussão é os 25 anos do Mercosul, que serão completados no próximo ano. As análises em destaque tratam das relações econômicas entre o RS e o Mercosul e também do significado das eleições argentinas para o bloco.

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Da esquerda para a direita, na divulgação: Tomás Torezani, Cecília Hoff, Tarson Núñez, Martinho Lazzari (Diretor Técnico da FEE) e Robson Valdez (Pesquisador em Relações Internacionais da FEE)

Os pesquisadores em Economia da FEE Cecília Hoff e Tomás Torezani tratam dos nexos econômicos entre o Mercosul e o RS. Eles debatem a centralidade da posição do Estado quando se fala de Mercosul. “A posição do RS é considerada por alguns como excêntrica em relação à economia brasileira porque estamos no extremo sul e principalmente longe de grandes mercados consumidores do país, como SP, MG e RJ. Quando a gente considera o Mercosul, o RS passa a ser central e pode atingir ao mesmo tempo os mercados do Uruguai, do Paraguai, da Argentina e também o centro do Brasil. Então nesse caso o RS fica central”, avalia Cecília.

A economista pontua ainda que muitos investimentos foram feitos com o intuito de aproveitar a vantagem de localização do RS em relação ao Mercosul. “Em certo sentido, o Mercosul, que inicialmente poderia ser considerado um problema para o RS porque as economias da Argentina e do Uruguai são muito parecidas em termos de estrutura com a economia gaúcha, acabou se tornando uma oportunidade. Até um tempo atrás essa oportunidade vinha sendo bem aproveitada, tanto que as exportações para o Mercosul cresciam acima da média do Estado. Nos últimos anos, com a crise da Argentina, as exportações para o Mercosul têm diminuído e isso tem se tornado um problema”, analisa Cecília. Tomás complementa que, passados quase 25 anos da sua criação, o Mercosul ainda importa estrategicamente para a economia gaúcha, embora as expectativas e as oportunidades quanto ao futuro do bloco se mostrem menos promissoras. “A economia gaúcha é mais aberta ao Mercosul do que a média nacional”, afirma.

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Tomás Torezani (E) e Cecília Hoff analisam a relevância do Mercosul para a economia gaúcha

O pesquisador em Ciência Política da FEE Tarson Núñez debate as eleições argentinas e seu significado para o Mercosul, entendendo que elas têm um peso significativo já que se trata do segundo país mais importante do bloco. Em 25 de outubro, foi eleito o candidato Mauricio Macri que, segundo avalia Tarson, aglutinava um conjunto de forças políticas do centro à direita, de matiz liberal, pró-mercado, o que poderia representar uma aposta de mudança radical na política argentina. “A vitória do candidato Mauricio Macri nas eleições na Argentina num primeiro momento poderia passar a impressão de que é uma ameaça para o Mercosul, na medida em que é um candidato que sempre defendeu uma política de maior liberalização e de uma ênfase menor na integração regional em detrimento a alianças com países e negociações país a país”. No entanto, Tarson avalia que o cenário após a vitória aponta para outra direção: “O que a gente pode ver já das primeiras declarações do Macri como Presidente mostra que a realidade fala mais alto do que a ideologia, na medida em que independente das posições políticas dos candidatos o Mercosul é muito importante para a economia da Argentina. Quase 30% das exportações da Argentina são internas ao bloco e quase 30% das importações argentinas também são relacionadas ao Mercosul”.

Tarson pontua ainda que Brasil e Argentina são o coração do Mercosul e, então, tendem a continuar mantendo uma relação estreita, tanto que o Presidente da Argentina já anunciou que sua primeira viagem internacional será ao Brasil. “Independente do viés do candidato é impossível que haja uma redução da relação econômica entre Brasil e Argentina. Ainda que haja alguma mudança de orientação do ponto de vista mais político e ideológico, do ponto de vista econômico o Mercosul é muito estratégico para a Argentina e para o Brasil e, ainda que possam haver atualizações e uma busca para tentar agilizar um pouco mais e fazê-lo funcionar melhor, não há dúvidas que a Argentina não tem condições de abrir mão do Mercosul”, projeta Tarson.

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Tarson Núñez (D) avalia que a eleição da Argentina realizada em 25 de outubro tem um peso significativo sobre as perspectivas da integração regional

O Panorama Internacional FEE é trimestral e trata das interações do Rio Grande do Sul no cenário global. A publicação é bilíngue (português e inglês). Confira os demais textos da edição:

O Mercosul e suas múltiplas dimensões – Editorial (Fernando Lara)

Integração digital: a dimensão tecnológica do Mercosul (Ana Júlia Possamai)

Mercosul: muito além da integração econômica (Bruno Jubran, Ricardo Leães e Robson Valdez)

“O Mercosul potencializa o Brasil” – Entrevista com André Luiz Reis da Silva (Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais da UFRGS).

 

Gisele Reginato – Jornalista