Publicação da FEE analisa a China, principal parceira comercial do Brasil e do RS

Para ajudar a entender a ascensão econômica da China e as implicações nas relações comerciais com o Brasil e o RS, a FEE lançou nesta quinta-feira (6/4) a sexta edição da publicação Panorama Internacional. Na coletiva de imprensa, os pesquisadores Sérgio Leusin Jr e Robson Valdez apresentaram análises para compreensão do tema.

Os pesquisadores Sérgio Leusin Jr, Martinho Lazzari (Diretor Técnico) e Robson Valdez apresentam a sexta edição da Panorama Internacional FEE

O Diretor Técnico da FEE, Martinho Lazzari, destacou que a análise da conjuntura externa é fundamental para entender a economia local. “Precisamos acompanhar sempre como o mundo interfere no RS. A China, especialmente, é importante porque o que o país produz e compra impacta praticamente todas as economias mundiais. Saber como a China atua ajuda a compreender estratégias para o RS, como sua economia pode sair da crise”, explica.

Setores do agronegócio devem prestar atenção na China

O economista da FEE Sérgio Leusin Jr trata da China e sua agricultura: desafios e possíveis implicações para o Brasil. O país asiático é o maior produtor mundial de arroz e fumo, o segundo maior produtor de trigo e milho e o quarto maior produtor de soja, culturas que são importantes para o Brasil. Conforme o pesquisador, os setores público e privado brasileiros, especialmente os relacionados ao agronegócio, devem ficar atentos à realidade econômica e social da China, em função da magnitude e do rápido crescimento do mercado chinês. “A China tem demonstrado competência em sua tarefa de garantir segurança alimentar e bons níveis de autossuficiência ao longo dos últimos anos. O Brasil, parceiro comercial indispensável para a China, precisa ter profundo conhecimento da realidade rural do país asiático, pois é bastante provável que as melhores oportunidades emergirão a partir de falhas nos planos chineses para esse setor”, projeta. Leusin também aponta que os protocolos de intenção de investimentos na infraestrutura brasileira demonstram a preocupação chinesa com os requisitos brasileiros para seguir como um parceiro indispensável estratégico. “É o que sugerem os recentes investimentos no Brasil da estatal chinesa de alimentos Cofco”, exemplifica.

Além disso, dado o contexto da expansão agrícola chinesa, o Brasil tem condições de produzir a cota adicional de alimentos para o povo chinês a um custo ambiental significativamente menor. Leusin explica que a expansão agrícola chinesa é necessária para atender sua demanda crescente, assim como as mudanças de hábitos alimentares oriundas de processos de urbanização e elevação de renda, o que exigirá ainda mais de seus escassos recursos naturais, notadamente terra arável e água.

Para o Rio Grande do Sul, essa relação também é fundamental já que a China é a principal parceira comercial do Estado. Em 2016, por exemplo, 27,5% das exportações gaúchas foram para a China. Leusin explica que a parceria do RS com a China se pauta pela venda de commodities e pela compra de manufaturados. “96% das exportações gaúchas para a China são do agronegócio. Apesar de a soja dominar essa pauta (quase 80%), fumo, produtos florestais e carnes também vêm se destacando recentemente”, pontua.

Investimento chinês no Brasil aumenta nos últimos anos

As relações entre o Brasil e a China frente aos desafios impostos pelo ajuste fiscal é o tema de debate do pesquisador em Relações Internacionais da FEE Robson Valdez, editor da publicação. O estudo aponta que no campo econômico a China se destaca dos demais países, desenvolvidos e em desenvolvimento, pela potência que se traduz em impressionantes superávits comerciais, níveis de crescimento econômico, reservas internacionais e volumes de investimentos mundo afora. “Desde 1974, quando o Brasil retomou as relações diplomáticas com a República Popular da China, o país asiático aumentou sua participação até assumir a posição de principal destino das exportações brasileiras, competindo com União Europeia, América Latina e Caribe”, avalia Robson.

A análise também indica que, nos últimos anos, aumentou significativamente o investimento chinês no Brasil. Os chineses investiram US$ 51,7 bilhões no Brasil, no período 2005 a 2016. Os investimentos abrangeram os setores: imóveis, energia, agricultura, químicos, tecnologia, metais, transporte e financeiro. O setor de energia foi o que mais atraiu investimentos. A partir da avaliação da dinâmica federal e estadual na relação com a China, Valdez analisa que o ajuste fiscal adotado pelo Governo do RS limita a capacidade do Estado de estabelecer projetos de parceria estratégica de longo prazo com a China nas áreas do desenvolvimento econômico e também nas áreas da cultura, da educação, da ciência e da tecnologia. “Na atual conjuntura, tanto o Governo Federal quanto o do Estado enxergam os investimentos chineses como um alívio de curto prazo na busca de soluções para os seus respectivos desafios de ajuste nas contas públicas. No entanto, a parceria com os chineses deveria ser percebida e instrumentalizada como uma estratégia de cooperação bilateral e sistêmica de longo prazo”, explica.

Confira também análises sobre As mudanças políticas na China contemporânea e seu impacto global e Inovações tecnológicas na China: lições e perspectivas. No Editorial, entenda a ascensão econômica da China e confira também Condicionantes e estratégias do desenvolvimento chinês, na entrevista com o professor da UFRJ Carlos Aguiar de Medeiros.

Na tarde de hoje, às 14:30, a discussão sobre o tema segue com evento no auditório da FEE. O professor de Sociologia do Desenvolvimento Rural e Estudos Alimentares da UFRGS, Sergio Schneider, trata das dinâmicas e transições do desenvolvimento rural chinês. O pesquisador em Ciência Política da FEE Tarson Núñez trata das mudanças políticas na China contemporânea e seu impacto global.

Gisele Reginato – Jornalista