Preços derrubam as exportações gaúchas em 2015

Crescimento da quantidade exportada não foi suficiente para compensar forte retração de preços

Em 2015, as exportações do Rio Grande do Sul acumularam US$ 17,518 bilhões, o que significou uma redução de US$ 1,177 bilhão em relação ao ano anterior (-6,3%). Esse resultado negativo foi fundamentalmente influenciado pela queda dos preços dos produtos exportados (-17,1%), enquanto o volume embarcado para o exterior elevou-se em 13,1%. Mesmo com retração em valor, o estado gaúcho aumentou sua participação nas exportações nacionais — saindo da quarta posição em 2014 (8,3%) para a terceira em 2015 (9,1%) — por conta de outros estados terem sentido retrações ainda mais fortes de preços. Isso se deve ao fato de os preços internacionais de commodities como o minério de ferro e o petróleo terem recuado em uma intensidade bem superior ao preço da soja. Assim, estados exportadores de minério de ferro e/ou petróleo (como Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pará e Espírito Santo) perderam participação nas exportações nacionais, enquanto ocorreu o contrário nos estados exportadores de soja (como Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso). De qualquer forma, a queda generalizada nos preços de commodities afetou de maneira decisiva a receita auferida em dólar das vendas externas de praticamente todos os estados brasileiros.

O ponto positivo dos dados das exportações gaúchas foi o crescimento na quantidade embarcada para o exterior, a qual foi a maior de toda a série histórica (23,5 milhões de toneladas). Contudo, a redução em preço mitigou o ganho obtido com a alta das quantidades exportadas. Para se compreender a magnitude dessa redução: se a quantidade embarcada em 2015 fosse vendida pelo preço médio de 2014, ter-se-iam receitas extras de cerca de US$ 3,6 bilhões, isto é, algo em torno de 20% do total exportado pelo Estado em 2015.

O ano de 2015 caracterizou-se por um período de dificuldades para a economia de uma forma geral, tanto no âmbito nacional quanto no regional, sobretudo para a indústria manufatureira. As consequências de decisões na condução da política econômica nos últimos anos e o aprofundamento do ajuste fiscal implementado pelo Governo Federal — ocasionando aumento de tarifas energéticas e de combustíveis, retirada de subsídios e incentivos fiscais, isto é, aumento nos custos de produção — contribuíram para a economia brasileira mergulhar em recessão econômica, recessão esta agravada pela instabilidade política em Brasília, onde os investimentos e a produção de diversos setores foram afetados. Com a demanda interna se desaquecendo, a exportação mostrou-se como uma alternativa viável em meio à crise brasileira.

Um fator determinante para tal alternativa foi a forte depreciação do real frente ao dólar (da ordem de 42%, saindo de uma média de 2,35 em 2014 para 3,33 em 2015, atingindo 3,87 em dezembro), a qual começou a surtir efeitos em determinados setores apenas no final do ano, não sendo capaz, todavia, de trazer crescimento das receitas em dólar — apesar de ter contribuído para a elevação da quantidade vendida para o exterior em diversos segmentos produtivos. Por outro lado, a magnitude da depreciação da taxa de câmbio foi tamanha que se sobrepôs à elevação dos custos de produção e à redução dos preços dos produtos exportados, levando à maior rentabilidade em moeda nacional dos últimos anos. Assim, o real desvalorizado ofereceu uma margem de competitividade via preço aos produtos exportados, sobretudo os básicos. Em sentido inverso, os setores dependentes da importação de insumos para a exportação de seus produtos foram ainda mais prejudicados. Grande parte da retração do valor exportado pelo Estado, além dos fatores elencados acima, deu-se em virtude do arrefecimento dos preços das commodities que se iniciou na segunda metade de 2014 e manteve de forma intensa a tendência baixista ao longo de todo o ano de 2015 (54% da pauta exportadora gaúcha foi composta por commodities).

Na base de comparação mensal (mês de 2015 contra o mesmo mês de 2014), em apenas três meses houve crescimento das receitas em dólar do Rio Grande do Sul; por seu turno, o crescimento em volume foi observado em nove meses. O resultado é igual ao exibido pela indústria de transformação. Já a agropecuária — na esteira das exportações recordes de soja — registrou sete meses de crescimento em valor e nove meses em volume, indicando a vitalidade exportadora do setor (o mesmo representou 27,0% das exportações gaúchas em 2015, 2,3 p.p. a mais do que em 2014, ao passo que a indústria de transformação contribuiu com 71,8% da pauta).

O principal produto gaúcho exportado em 2015 foi a soja em grão (US$ 4,095 bilhões), a qual respondeu por 23,4% das exportações totais do Estado (considerando o complexo soja como um todo, o valor chega a 30,2%). A supersafra do ano (recorde histórico de produção e exportação) e o forte aumento na demanda chinesa (crescimento de 2,5 milhões de toneladas em relação a 2014) mais do que compensaram o recuo de seu preço no mercado internacional (a tonelada métrica saiu de US$ 458 em 2014 para US$ 347 em 2015, uma redução de 24%). Assim sendo, a quantidade exportada atingiu o recorde histórico de 10,6 milhões de toneladas, mas, em função da forte retração de preço, não foi registrado recorde em valor. O segundo principal produto exportado foi o fumo em folhas (US$ 1,535 bilhão), seguido da carne de frango (US$ 1,134 bilhão), polímeros de etileno, propileno e estireno (US$ 1,060 bilhão) e farelo de soja (US$ 980 milhões).

Confrontando o desempenho de 2015 com o de 2014, da redução de US$ 1,177 bilhão do total exportado pelo Rio Grande do Sul, US$ 1,242 bilhão foi proveniente da indústria de transformação (-9,0% em valor, 7,9% em volume e -15,7% em preço), enquanto, na agropecuária, houve crescimento de US$ 102,3 milhões (2,2% em valor, 30,8% em volume e -21,9% em preços).

Os principais destaques positivos da agropecuária foram os crescimentos de US$ 212,3 milhões das exportações de trigo (217,5% em valor, 495,7% em volume e -46,7% em preços) e de US$ 108,5 milhões de soja (2,7% em valor, 38,4% em volume e -25,8% em preços). O destaque negativo ficou pela retração de US$ 172,0 milhões nas vendas de milho (-72,0% em valor, -67,5% em volume e -13,8% em preços). O crescimento das vendas de trigo deu-se pela quebra de safra ocorrida em 2014 pelo excesso de chuva; já o recuo das exportações de milho ocorreu pelo ano de comparação 2014 ter sido atípico, com recorde de toneladas exportadas na história.

Em relação à indústria de transformação, dos seus 23 segmentos, apenas seis registraram crescimento no valor exportado, 15 apresentaram crescimento em volume e 21 exibiram retrações nos preços de seus produtos. Dos segmentos da indústria de transformação, destacam-se os crescimentos de US$ 388,7 milhões no de outros equipamentos de transporte, de US$ 181,4 milhões no de celulose e papel (106,1% em valor, 107,7% em volume e -0,7% em preços) e de US$ 23,5 milhões no de veículos, reboques e carrocerias (2,5% em valor, 16,2% em volume e -11,8% em preços). A exportação do casco da plataforma P-67, em setembro, para a China, o aumento da capacidade de produção da Celulose Riograndense após a expansão de sua planta e as vendas de automóveis para a Argentina explicam os desempenhos favoráveis desses segmentos. Já os maiores recuos no valor exportado foram sentidos nos segmentos de produtos alimentícios (US$ -396,8 milhões; -9,5% em valor, 8,1% em volume e -16,3% em preços), derivados de petróleo (US$ -390,3 milhões; -82,4% em valor, -75,4% em volume e -28,4% em preços), produtos do fumo (US$ -289,5 milhões; -15,3% em valor, 2,5% em volume e -17,4% em preços), produtos químicos (US$ -229,8 milhões; -11,1% em valor, 18,4% em volume e -25,0% em preços) e máquinas e equipamentos (US$ -219,9 milhões; -19,7% em valor, -14,3% em volume e -6,4% em preços).

No que se refere aos países de destino, China (US$ 4,861 bilhões, representando 27,8% da pauta exportadora), Argentina (US$ 1,271 bilhão, com 7,3% da pauta) e Estados Unidos (US$ 1,190 bilhão, com 6,8% de tudo o que foi vendido pelo RS) foram os que mais importaram os produtos gaúchos em 2015. No comparativo contra 2014, os países (e os produtos) que apresentaram os maiores aumentos no valor exportado foram China (US$ 406,4 milhões; casco da plataforma P-67), Vietnã (US$ 124,9 milhões; soja), Arábia Saudita (US$ 84,4 milhões; farelo de soja e carne de frango), Eslovênia (US$ 71,0 milhões; farelo de soja) e Bangladesh (US$ 66,7 milhões; trigo). Por outro lado, os maiores recuos nas vendas externas foram registrados para o Paraguai (US$ -478,8 milhões; óleo diesel), Estados Unidos (US$ -175,3 milhões; hidrocarbonetos e seus derivados), Alemanha (US$ -148,1 milhões; farelo de soja), Angola (US$ -120,9 milhões; embutidos de carne e carne de frango) e Holanda (US$ -104,0 milhões; farelo de soja).

Dezembro: Rio Grande do Sul perde duas posições e termina como o 6º principal estado exportador

As exportações gaúchas somaram US$ 1,114 bilhão em dezembro, uma redução de US$ 232,6 milhões em relação ao mesmo mês do ano anterior (-17,3% em valor, 5,1% em volume e -21,3% em preço). Os recuos no valor exportado de soja para a China, de farelo de soja para a Alemanha e França, de colheitadeiras para a Venezuela, de trigo para Filipinas e de éter metil-terc-butílico (MTBE) para a Holanda foram os principais destaques negativos. Por outro lado, os maiores crescimentos registrados das receitas de exportação foram de soja e de farelo de soja para a Espanha, óleo de soja para a Índia, carne de frango para a Arábia Saudita e automóveis para a Argentina.