A Fundação de Economia e Estatística divulga as estatísticas do emprego formal celetista e das exportações do agronegócio do Brasil e do Rio Grande do Sul, referentes ao primeiro trimestre de 2016. A FEE calcula as estatísticas do agronegócio nas versões restrita e ampla. A descrição e a análise dos resultados apresentados na sequência referem-se à versão restrita do agronegócio. Para mais detalhes, ver notas metodológicas de emprego e de exportações.
Para o adequado dimensionamento do agronegócio, é necessário ter clareza sobre o alcance dessa definição. Enquanto a agropecuária constitui parte do Setor Primário da economia, o agronegócio — de base empresarial ou familiar — é mais abrangente. Além da agropecuária, compõem o agronegócio
- as atividades de produção de insumos e de bens de capital (fertilizantes, defensivos, máquinas agrícolas);
- as atividades da indústria de transformação que se utilizam de matéria-prima agropecuária (alimentos, biocombustíveis, fumo);
- as atividades especializadas na oferta de serviços agropecuários e na armazenagem e distribuição dos produtos do agronegócio.
Resumidamente, o agronegócio pode ser definido como a junção das atividades agropecuárias (segmento “dentro da porteira”) e interdependentes a montante (segmento “antes da porteira”) e a jusante (segmento “depois da porteira”), como já abordado aqui.
Emprego formal celetista do agronegócio do RS[1]
No primeiro trimestre de 2016, foi registrado um saldo positivo de 21.069 postos de trabalho com carteira assinada no agronegócio do Rio Grande do Sul. Essa é a diferença entre os números de admissões (64.227) e desligamentos (43.158) de trabalhadores formais celetistas nas atividades que compõem o setor. Nos três primeiros meses do ano, o Rio Grande do Sul foi o estado brasileiro com maior criação de vagas no agronegócio, seguido por Mato Grosso (8.567 postos) e Goiás (8.355 postos). No Brasil, houve redução de 14.567 postos de trabalho no setor, no primeiro trimestre de 2016.
No Rio Grande do Sul, o número de postos de trabalho criados em 2016 foi superior ao observado no primeiro trimestre do ano anterior (mais 2.205 empregos). Porém essa diferença não foi suficiente para compensar os saldos negativos dos três últimos trimestres. No comparativo entre o primeiro trimestre de 2015 e o de 2016, ocorreu um recuo de 0,6% no estoque de empregos com carteira assinada no agronegócio gaúcho.
Cabe observar que há um importante componente sazonal associado ao movimento do emprego formal no agronegócio gaúcho. Tradicionalmente, em razão da dinâmica das atividades agrícolas e agroindustriais mais diretamente vinculadas às safras de verão, ocorre maior mobilização de mão de obra no primeiro e no quarto trimestre de cada ano.
O saldo positivo do emprego com carteira assinada no primeiro trimestre de 2016 deveu-se, sobretudo, ao desempenho do segmento “depois da porteira”. Constituído principalmente de atividades agroindustriais e respondendo por aproximadamente dois terços do total do emprego formal do agronegócio gaúcho, foram criados 15.118 novos postos de trabalho nesse segmento entre janeiro e março. Os setores com maior saldo positivo foram os de fabricação de produtos do fumo (mais 8.049 postos) e de comércio atacadista de produtos agropecuários e agroindustriais (mais 4.370 postos). Por outro lado, o setor de fabricação de conservas foi o que mais perdeu empregos na agroindústria gaúcha (-462 postos), no primeiro trimestre de 2016.
Em relação a igual período de 2015, o maior crescimento no saldo de empregos ocorreu em atividades agropecuárias do segmento “dentro da porteira”. A criação de 6.533 postos de trabalho nesse segmento, no primeiro trimestre, é explicada pelo desempenho dos setores de lavouras permanentes (mais 3.845 postos) e temporárias (mais 1.988 postos). A necessidade de mão de obra para a colheita da maçã foi a principal fonte de variação do emprego formal na agropecuária gaúcha, nesse período.
O segmento “antes da porteira”, constituído pelas atividades voltadas à produção e à comercialização de insumos, máquinas e equipamentos de uso agropecuário, foi o que revelou os piores resultados (menos 582 postos de trabalho no primeiro trimestre). Esse foi o nono trimestre consecutivo com retração no estoque de empregos do segmento. A crise na indústria gaúcha de máquinas e implementos agrícolas persiste, tendo acarretado a perda de mais de 7.000 empregos formais desde 2014. Em 2016, o setor de produção de sementes e mudas certificadas é o que apresenta o saldo mais negativo (-517 postos).
Na sequência, são destacados os setores de atividade com maior criação e perda de postos de trabalho no agronegócio gaúcho durante o primeiro trimestre de 2016 e o comparativo em relação a igual período do ano anterior.
Em termos regionais, a variação no emprego formal do agronegócio gaúcho no primeiro trimestre de 2016 refletiu a especialização produtiva, as formas de organização da produção predominantes e, principalmente, a sazonalidade das culturas agrícolas. Tradicionais produtores e beneficiadores de fumo, Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires lideraram a criação de empregos com carteira assinada em 2016 (mais 5.167 postos e mais 2.972 postos respectivamente). Vacaria (mais 2.696 postos) e Bom Jesus (mais 683 postos) aparecem na sequência e destacam-se pelos empregos temporários criados na atividade de colheita da safra da maçã. Esses quatro municípios também lideravam a criação de empregos no primeiro trimestre de 2015, o que evidencia a natureza sazonal desse movimento.
Exportações do agronegócio do RS
As exportações do agronegócio gaúcho totalizaram US$ 1,694 bilhão no primeiro trimestre de 2016, valor que corresponde a 60,3% das vendas externas totais do Estado. Na comparação com igual período de 2015, o valor exportado retraiu 10,5%, resultado da queda de volume (-6,3%) e de preços (-4,4%).
No Rio Grande do Sul, historicamente, o primeiro trimestre é o período do ano em que as exportações do agronegócio registram o menor valor exportado. Esse resultado é explicado pela dinâmica das vendas de grãos (sobretudo a soja), que se concentram no segundo e no terceiro trimestre.
Principais setores
Os cinco principais setores exportadores do agronegócio do Rio Grande do Sul no primeiro trimestre de 2016 foram carnes (US$ 399,5 milhões), complexo soja (US$ 297,6 milhões), fumo e seus produtos (US$ 287,0 milhões), produtos florestais (US$ 213,4 milhões) e cereais, farinhas e preparações (US$ 182,0 milhões). As exportações desse conjunto de setores caíram de US$ 1,517 bilhão no primeiro trimestre de 2015 para US$ 1,379 bilhão em 2016. Apesar da queda em valores absolutos, a participação desses setores no total das vendas externas do agronegócio cresceu, passando de 80,2% para 81,4%.
Em relação ao primeiro trimestre de 2015, os principais setores responsáveis pela queda nas exportações gaúchas do agronegócio em 2016 foram cereais, farinhas e preparações (-45,7%), complexo soja (-25,7%), fumo e seus produtos (-9,2%), máquinas e implementos agrícolas (-34,3%), demais máquinas e equipamentos agropecuários e suas partes (-56,3%) e carnes (-2,6%). As maiores quedas foram observadas nas vendas de trigo (menos US$ 138,8 milhões) e farelo de soja (menos US$ 95,9 milhões), que sofreram retrações nos volumes embarcados e nos preços.
O destaque positivo foram as exportações do setor de produtos florestais, com alta de 283,7%. As vendas de celulose cresceram 669,2% e atingiram US$ 170,9 milhões no trimestre.
Principais destinos
Os principais destinos das exportações do agronegócio gaúcho no primeiro trimestre de 2016 foram União Europeia (US$ 323,4 milhões), China (US$ 240,8 milhões), Estados Unidos (US$ 102,0 milhões), Coreia do Sul (US$ 77,5 milhões) e Rússia (US$ 64,5 milhões). Somados esses cinco destinos responderam por 47,7% das exportações gaúchas do agronegócio.
Em relação às variações no trimestre, o principal aumento foi para a China (45,6%). A expansão da capacidade produtiva da empresa Celulose Riograndense e o início dos embarques de carne suína para o mercado chinês são fatores que colaboraram não somente para o incremento das exportações do Estado, mas também para uma reestruturação, ainda que em princípio marginal, da pauta exportadora gaúcha para esse país asiático. Na sequência, aparecem Irã (85,4%, milho e farelo de soja), Turquia (169,0%, soja e tabaco não manufaturado) e Estados Unidos (20,4%, celulose e tabaco não manufaturado).
Os destinos com as maiores quedas nas vendas de produtos do agronegócio gaúcho foram União Europeia (-18,2%, farelo de soja para a Holanda e tabaco não manufaturado para a Bélgica e Reino Unido), Tailândia (-91,5%, trigo) e Bangladesh (-94,5%, trigo e óleo de soja).
[1] O principal interesse na análise recai sobre a variação no número de postos de trabalho do agronegócio gaúcho. Ao longo do texto, como recurso de simplificação, faz-se referência aos empregos “perdidos” ou “criados” no período. Cabe ressaltar, no entanto, que essa não é uma formulação rigorosa, pois está considerando-se o saldo líquido e não todos os novos postos.