O livro Os camponeses do Morro Alto — família e trabalho no litoral norte do Rio Grande do Sul no pós-Abolição (1890-1930) investiga itinerários negros ao longo da Primeira República. Enfocando a trajetória de uma comunidade e de uma família, a partir de eixos como relações familiares e atividades laborais, constata-se o estabelecimento de um campesinato negro na região, contrariando as correntes teses que reduzem os destinos dos antigos escravos à extrema pauperização, que se revela apenas uma dentre tantas possibilidades históricas. Na intersecção entre história social e econômica, o livro procura demonstrar que tal separação não faz muito sentido no local e período analisados: afinal, a estruturação da unidade familiar também dizia respeito à organização das atividades produtivas; os laços de compadrio e vizinhança eram determinantes para a cooperação laboral e o usufruto de benfeitorias. Verifica-se, ainda, uma crescente monetarização das relações sociais ao longo da primeira metade do século XX, em detrimento de atividades solidárias tradicionais.