A taxa de desemprego total manteve-se em 10,8% da População Economicamente Ativa (PEA), entre fevereiro e março de 2017, com a redução da ocupação (menos 11 mil, ou -0,7%) um pouco inferior à diminuição da PEA (menos 12 mil, ou -0,7%). A taxa de participação diminuiu de 51,6% para 51,3% no período em análise, atingindo o menor patamar da série histórica. É o que revelam os dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED-RMPA) de março divulgada nesta quarta-feira, 26, na FEE, com a parceria da FGTAS e DIEESE. O número total de desempregados foi estimado em 197 mil pessoas, 1 mil a menos em relação ao mês anterior.
A queda do nível ocupacional foi de 0,7%, somando um contingente estimado em 1.627 mil ocupados. A pesquisa revela redução nos serviços (menos 24 mil ocupados, ou -2,7%) e na indústria de transformação (menos 7 mil ocupados, ou -2,4%) e acréscimo no comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas (mais 12 mil ocupados, ou 3,7%) e na construção (mais 6 mil ocupados, ou 4,9%).
Houve redução no total de assalariados (menos 28 mil, ou -2,4%), tanto no setor privado (menos 25 mil, ou -2,5%) quanto no setor público (menos 4 mil, ou -2,2%). A redução no setor privado atingiu o emprego com carteira (menos 19 mil, ou -2,1%) e sem carteira (menos 6 mil, ou -6,5%). Já entre os trabalhadores autônomos (mais 17 mil, ou 8,3%) e empregados domésticos (mais 2 mil, ou 2,0%) registrou-se aumento.
Entre janeiro e fevereiro de 2017, o rendimento médio real diminuiu para o total de ocupados (-2,0%) e assalariados (-3,0%) e aumentou para os trabalhadores autônomos (1,4%). Em termos monetários, esses rendimentos passaram a corresponder a R$ 1.841, R$ 1.840 e R$ 1.635 respectivamente.
“É o quinto mês de queda da ocupação, embora a taxa se mantenha relativamente estável, só acontece porque tem uma redução muito grande da PEA”, explica a economista do DIEESE Virgínia Donoso . “Há uma saída muito significativa de pessoas do mercado de trabalho, o que demanda uma análise do perfil dos inativos, para entender as motivações desses processos. Se não fosse esse movimento as taxas de desemprego seriam bem maiores. Inclusive, se esse movimento reverter, pode ocorrer aumento da taxa de desemprego”, alerta.
Para a economista da FEE, Iracema Castelo Branco, o cenário econômico indica difícil recuperação do mercado de trabalho. Tanto o setor público como o privado registraram queda de ocupação e os rendimentos também recuaram. “Proporcionalmente, o setor público contribuiu mais para a queda da ocupação do que o setor privado. Os autônomos, que consistem no grupo que mais cresceu, foram igualmente os que tiveram maior queda dos rendimentos, -11,2%. Esse empreendedorismo que surge como alternativa acaba não se confirmando. Os componentes da demanda não mostram possibilidade de crescimento econômico, que é o que determina a geração de emprego. A queda nos rendimentos é uma variável insuficiente para deter a queda na ocupação. O cenário é de deterioração”, avalia.
A coordenadora nacional da PED, economista do DIEESE Lúcia Garcia, chama atenção para o fato de Porto Alegre ser uma espécie de sentinela do mercado de trabalho no país. “Sintomas acontecem aqui primeiro, muito em função do encadeamento da nossa cadeia produtiva. Quando há um tombo aqui, acaba por acontecer em seguida nas outras capitais e regiões metropolitanas. Neste momento, se percebe claramente que o mercado de trabalho em Porto Alegre se direciona para a elevação do patamar de desemprego. Estamos patinando, rumo à degradação, que é a precarização muito forte”, afirma. Para Lúcia, o aumento do número de autônomos e do serviço doméstico ao lado da redução de seus rendimentos, são elementos que demonstram o cenário desfavorável e que podem se agravar caso sejam implementadas as reformas em discussão. “Somos técnicos que oferecem informações qualificadas para a sociedade. E essas informações nos levam a tomar posição. Nossa posição é que as reformas não só precarizam, como trazem novas perversidades para esse mercado e pioram a condição social e econômica da população”, afirma. Lúcia ainda destaca que a CLT não é ultrapassada, apesar da sua origem nos anos 40. “É uma carta de direitos constantemente atualizada”, enfatiza.
Sandra Bitencourt-Jornalista