Nesta quinta-feira (28), a Fundação de Economia e Estatística lançou a 9ª edição do Panorama Internacional FEE, discutindo a agenda global das mudanças climáticas. Os pesquisadores avaliaram como o tema está sendo discutido mundialmente e como o Brasil e o Rio Grande do Sul estão situados nessa questão.
Os países dão declarações de que a comunidade internacional está comprometida com uma agenda ambiental comum. No entanto, para o pesquisador em Relações Internacionais da FEE Robson Valdez, o Brasil tem dado demonstrações que colocam em dúvida seu real alinhamento com os esforços globais na área ambiental. “Os exemplos são a recente decisão da Justiça Federal brasileira de suspender a ação contra a mineradora Samarco, responsável pelo maior desastre ambiental da história do País; e a autorização no final do mês de agosto pelo Governo Federal de extinção de uma reserva nacional na Amazônia, a Reserva Nacional do Cobre e Associados”, aponta.
Na coletiva de imprensa, o pesquisador em Ciência Política da FEE Tarson Núñez avaliou quais os impactos políticos nos Estados Unidos do rompimento de Trump com o Acordo de Paris, ocorrido em junho deste ano. O Presidente norte-americano justifica sua saída do acordo climático em função de que, para ele, o acordo de Paris fragilizaria a economia e a soberania dos Estados Unidos, colocando o país em desvantagem em relação a outros países do mundo. Tarson ressalta, no entanto, que a decisão de Trump gerou controvérsia pública e desencadeou intensas mobilizações críticas em defesa do cumprimento do acordo, por parte de ambientalistas, cientistas, movimentos sociais e mesmo setores empresariais. “As forças políticas por trás das mobilizações têm sua origem nos movimentos antiglobalização, que encontraram no tema das mudanças climáticas um espaço de convergência entre os movimentos ambientalistas e os movimentos de luta por justiça social. Já ao lado de Trump, agrupa-se o poderoso lobby da indústria de combustíveis fósseis, setor que constitui a principal base de apoio a Trump em relação aos temas ambientais”, destaca.
Situação do Rio Grande do Sul: Estado abriga 3 dos dez rios mais poluídos
A água doce é considerada, atualmente, um dos bens mais preciosos e cobiçados do mundo, ao lado do petróleo, e, por essa razão, já se tornou um dos principais motivos de disputas e conflitos internacionais. A geógrafa da FEE Mariana Lisboa Pessoa aponta que alguns conflitos ilustram a disputa por recursos hídricos no mundo, como é o caso do que ocorre no território da Caxemira, entre a Índia, o Paquistão e a China, pelo controle da nascente e do curso alto do Rio Indo. Além disso, há os que acontecem no Oriente Médio, local no mundo com o maior número de conflitos relacionados a disputas por recursos hídricos. Em relação ao Brasil, a pesquisadora avalia que, embora o país não esteja envolvido diretamente em nenhum tipo de conflito por recursos hídricos e concentre cerca de 13% do total do volume de água doce do mundo, a distribuição pelo território é bastante desigual.
Mariana aponta ainda que as bacias da Região Sul apresentam situações críticas tanto pela baixa qualidade das águas como pela grande demanda, ambas relacionadas, dentre outras coisas, com o alto grau de urbanização e industrialização. “O Rio Grande do Sul, especificamente, que possui uma grande disponibilidade hídrica, apresenta um dos maiores desequilíbrios hídricos tanto em quantidade quanto em qualidade”, afirma. Uma das razões é que o Estado coleta apenas 31,2% do esgoto gerado e trata menos de 13%, abrigando, por isso, três dos 10 rios mais poluídos do País: Sinos, Gravataí e Caí — todos localizados na Região Metropolitana de Porto Alegre, abastecendo mais de 1,5 milhões de pessoas. Ainda na RMPA, os municípios de Canoas e Gravataí figuram entre os 20 piores do País no ranking do saneamento (que analisa a situação dos 100 municípios mais populosos do País). Além disso, o impacto do uso de agrotóxicos nas lavouras do Estado é devastador para a manutenção dos solos, dos mananciais de água e para todo o ecossistema. “O RS usa quase o dobro da quantidade de agrotóxico nas lavouras, se comparado com a média anual brasileira: 8,3 litros por habitante contra 4,5 l/hab”. Confira a análise na íntegra aqui.
Nesta edição do Panorama Internacional FEE, também confira análise sobre: matrizes energéticas de Brasil, Estados Unidos e China, seus vetores e impactos ambientais e O regime internacional de mudanças climáticas: a evolução, as contradições e a posição do Brasil. No editorial, conheça todos os textos deste número e, na entrevista, veja como se posiciona a pesquisadora Catherine Tinker, Professora Associada visitante na Escola de Diplomacia e Relações Internacionais da Seton Hall University, onde leciona as disciplinas de Direito Internacional e Legislação Ambiental Internacional. “Os complexos desafios globais requerem soluções globais, e a participação e o compromisso de todos os estados são necessários para que sejam dados, nas próximas uma ou duas décadas, os passos que protegerão a vida na Terra para as gerações futuras”, aponta em entrevista ao Panorama.
Gisele Reginato – Jornalista