Petróleo e segurança energética é tema de palestra de lançamento da Panorama Internacional

Dando seguimento aos debates organizados para o lançamento da 5ª edição da Revista Panorama Internacional, duas palestras sobre o tema petróleo permitiram ampliar a discussão em torno desse produto estratégico, na tarde desta terça-feira, 06, no auditório da Fundação de Economia e Estatística.

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Palestra de lançamento da Panorama Internacional: pesquisadores da FEE Ricardo Leães e Fernando Lara e palestrante convidado, professor da Unisinos, Daniel Pautasso

O  texto  O caráter multifacetado da dinâmica do petróleo foi apresentado pelo autor, Ricardo F. Leães, pesquisador em Relações Internacionais da FEE,  abordando os recentes fluxos globais de petróleo . O pesquisador tratou do contexto da demanda e da oferta do produto e  mostrou porque essa relação suscita uma análise mais complexa. “O petróleo tem especificidades que requerem análises mais alargadas. Os maiores consumidores, não são os maiores produtores e esse é apenas um dos fatores que determina esse caráter estratégico e revela sua importância geopolítica, exigindo abordagens que superem fatores básicos da economia, para entender o que acontece com o preço, por exemplo”, explicou.

Leães chamou a atenção  para o  principal fator de transformação do mercado petrolífero nos últimos anos,  o crescimento da exploração dos recursos não convencionais, que ensejaram a recuperação da produção energética nos Estados Unidos e o crescimento da exploração de petróleo no Canadá, uma situação considerada  extraordinária porque reverte um padrão de crescente dependência energética norte-americana.  “A Participação do Canadá, hoje, é maior que a participação da OPEP nas exportações para os EUA. Nessas circunstâncias, a dependência energética dos EUA cai drasticamente e sabemos que a segurança energética ajuda a moldar a política externa dos norte-americanos, o que impulsiona novos arranjos geopolíticos”, esclarece o pesquisador. Leães mostra os desdobramentos dessa nova realidade e a repercussão em outros países estratégicos e envolvidos na disputa e oferta do produto como Rússia, China, Arábia Saudita e Irã. “Este texto é muito mais uma ação de especulação e e análise de cenários, do que indicar previsões, porque essa área é muito dinâmica”, pondera.

Na palestra Petróleo e Segurança Energética, Diego Pautasso reforça a premissa de que o petróleo  é estratégico e está entrelaçado à geopolítica. “O petróleo não é precificável exclusivamente pelo mercado, não é um bem comum e não é tratado assim pelas potências mundiais”, afirma. Pautasso cita algumas questões que corroboram essa concepção: todas as guerras do século XX tiveram o petróleo, direta ou indiretamente, como uma de suas causas, incluindo, na atualidade, o Estado Islâmico, por exemplo; o desenvolvimento das nações é muito determinado pelo petróleo, sua exploração, distribuição, embargos e benefícios; do ponto de vista das corporações as “7 irmãs”, maiores empresas americanas e europeias que dominavam o mercado petrolífero, são um exemplo da hegemonia desse setor dentre as grandes empresas deste e do século passado. No Brasil, Pautasso chama atenção para o fato de o petróleo estar no epicentro da trajetória política e de desenvolvimento do país. O pesquisador destacou que, nos anos 80, a dependência energética do país girava em torno dos 85% de petróleo importado e que, em 2006, se alcançou a  autossuficiência energética. “Fruto do desenvolvimento de uma política de interesse nacional, nenhum país chegou ao desenvolvimento tecnológico sem sinergia entre o Estado Nacional e suas corporações. O problema é que a construção de capacidades é interrompida sucessivamente, e é muito ruim a descontinuidade de políticas estratégicas de desenvolvimento. Política de conteúdo nacional, é assim que se avança em termos tecnológicos”, avalia.

Para o pesquisador, a Petrobras, além de ser um elemento determinante da política brasileira, é a maior geradora de avanços tecnológicos, produtivos e econômicos: “é interessante dimensionar o que essa, que é a maior empresa de capital aberto produtora de petróleo do mundo, significa. São 81 mil funcionários, 129 plataformas, receita de vendas de R$ 338 bilhões, investimentos na ordem de R$ 88 bilhões (só para efeito de comparação, o orçamento do RS é de R$ 60 bilhões), 16 refinarias, 54 navios, 37 mil km de dutos, 22 termoelétricas, 3 fábricas de fertilizantes e 15 usinas de biocombustíveis, sem falar em toda a cadeia privada de suprimentos que dependem da Petrobras”, esclarece. Na avaliação do pesquisador, com o recurso estratégico do Pré-Sal colocado em risco pelo que considera um desmonte, a crise gerada é muito maior do que o fim do chamado “lulopetismo”, mas uma grande ameaça ao projeto de nação. “É um desmonte da internacionalização de empresas e exportações de serviços, ameaça à integração latino-americana e desmanche de nossas grandes corporações. Episódios semelhantes de acusações e corrupção acontecerem com grandes empresas norte-americanas em 2008 e com algumas europeias. O que aconteceu com essas empresas? Foram reconstruídas, saneadas e recolocadas no mercado. O PL 131 de 2015 ameaça a Petrobras, contribui para a perda de escala e impacta duramente a política de conteúdo nacional”, conclui.

 

Sandra Bitencourt- Jornalista