Na tarde desta terça-feira, 7, ocorreu na FEE palestra sobre as novas dinâmicas do comércio mundial, com o professor da UFRGS André Cunha e o pesquisador em Relações Internacionais da FEE Robson Valdez. O evento faz parte da divulgação da quarta edição do Panorama Internacional FEE, lançada hoje com o tema dos mega-acordos comerciais.
O Diretor Técnico da FEE Martinho Lazzari destaca a relevância desse tema para o Brasil e especificamente para o Rio Grande do Sul, principal objeto de estudo da FEE. “A economia do RS é relativamente mais vinculada ao comércio exterior do que a média brasileira, então esse tema é sempre importante para compreender a economia gaúcha”, afirma. O editor do Panorama Internacional FEE, Fernando Lara, ressaltou que a publicação, na sua quarta edição, reforça o compromisso de trazer as discussões internacionais conectadas com as questões importantes do Estado. “Nessas quatro edições tratamos das exportações gaúchas, as migrações no contexto global, os 25 anos do Mercosul e agora os mega-acordos globais, sempre buscando abordá-los não só da perspectiva econômica mas também a partir da visão de outras áreas das Ciências Sociais. A próxima edição, que será divulgada em setembro, irá discutir o tema do petróleo”, aponta Lara.
Na tarde de debate na FEE, o professor do curso de Economia da UFRGS André Cunha enfatizou a importância de uma instituição como a FEE com capacidade de se renovar e pensar as questões globais e suas relações com o Rio Grande do Sul. Ao tratar do contexto atual do comércio mundial, o professor situa que a economia mundial está crescendo menos desde 2008, o que gera maior volatilidade, e o mercado de trabalho mundial está mais vulnerável. “Nesse cenário, os preços do comércio estão em queda. Então no geral os preços das commodities estão caindo. É problemático achar que a Índia vai segurar o crescimento mundial”, avalia.
Para André Cunha, o Acordo Transatlântico (reúne EUA e União Europeia) e o Acordo TransPacífico (abrange 12 países da Ásia e das Américas) são acordos de grande volume. “A ideia central dos acordos é a proteção dos investidores no ambiente dos negócios, inclusive as tarifas, e essa pressão envolve certo esvaziamento das negociações multilaterais. Para o Brasil, essas padronizações reduzem as margens de manobra para fazer políticas das mais diversas”, pondera o professor. Ele acrescenta que merece atenção nessa discussão a desaceleração da economia da China e o efeito das turbulências (externa e interna) sobre a capacidade do Brasil retomar uma trajetória robusta de crescimento. “A China está entre os dez principais parceiros comerciais de quase todas as economias do mundo. A exposição à China é muito grande, então sentimos rapidamente os impactos. A desaceleração da China tem relação direta com o desacelerar dos países emergentes”, afirma.
O pesquisador em Relações Internacionais da FEE Robson Valdez abordou o tema Mega-acordos comerciais: uma nova agenda para o comércio internacional? Para Robson, o Acordo Transatlântico e o Acordo TransPacífico buscam harmonizar o padrão de comércio internacional e impõem um desafio para o comércio exterior e a política externa brasileira. “Os mega-acordos têm o objetivo principal de padronizar os procedimentos aduaneiros e, assim, colocam em discussão nos países membros desses acordos o poder de barganha política na hora de defender os interesses de cada segmento”, avalia Robson.
Em relação ao Brasil, o pesquisador pondera que a adesão do país aos mais variados tipos de acordos comerciais passa principalmente pela reavaliação de suas prioridades domésticas e externas. “No âmbito doméstico, é importante destacar o impacto desses acordos sobre as contas externas do País, sobre o desgaste político junto a diferentes grupos empresariais com interesses conflitantes na execução da política exterior do País e sobre os interesses de trabalhadores e consumidores. No âmbito internacional, o Brasil busca uma solução conciliatória junto à Argentina no sentido de se chegar a um acordo comercial com a União Europeia sem comprometer seus objetivos junto ao Mercosul e à América do Sul, área de influência estratégica no âmbito de sua política externa”, projeta. O pesquisador destaca que discussões como essas promovidas pelo Panorama Internacional ajudam os tomadores de decisão a se valer de dados e perspectivas sobre os desafios da inserção brasileira no comércio mundial.
Confira as fotos do evento e as apresentações dos palestrantes:
Contexto atual do comércio mundial – André Cunha
Mega-acordos comerciais: uma nova agenda para o comércio internacional? – Robson Valdez
Gisele Reginato – Jornalista