A Nova Zelândia é o país que domina o mercado do leite e que estipula o preço internacional do produto . A explicação para essa condição está no padrão peculiar de gestão de duas bovinoculturas que lá são tratadas em conjunto: a de leite e a de corte. Compreender as peculiaridades dessa experiência e refletir em que medida pode ser aplicada na realidade do Rio Grande do Sul é o objetivo do I Seminário Inovação e Integração das Bovinoculturas de Carne e Leite: Perspectivas de Desenvolvimento para a Agroindústria Gaúcha de Proteína Animal, promovido pela Fundação de Economia e Estatística e a Faccat (Faculdades Integradas de Taquara). Pesquisando há mais de dez anos sobre esse tema, o economista da FEE Carlos Paiva é um dos organizadores do evento que ocorre em Taquara nesta quinta e sexta-feira (17 e 18) com a presença de pesquisadores, produtores, estudantes e representantes de entidades e sindicatos vinculados ao setor da pecuária. Segundo Paiva, é necessário que a sociedade se organize e reflita em busca de soluções que podem transformar positivamente nosso padrão de desenvolvimento “Há ainda muita resistência a novos cruzamentos. Mas a Nova Zelândia produziu novas raças e buscou desenvolver uma produção conjunta de leite e carne que levou produtores da falência para a liderança mundial. Temos especificidades aqui no Estado que nos permitem uma posição muito favorável para inovar nesse sentido”, destacou Paiva.
Martinho Lazzari, diretor técnico da FEE, disse ser natural a Fundação participar de um evento desta natureza, com parceiros tão qualificados, já que é sua missão como órgão auxiliar de planejamento, produzir indicadores e análises que orientam as políticas públicas. “É importante destacar a relevância deste setor para a nossa economia. Apenas a bovinocultura, que engloba corte e leite, tem 1,6% do valor adicionado da economia gaúcha. Se somarmos o processamento, chegaremos a um total de 2,1%. Isso representa mais de 8 bilhões de reais. É praticamente igual a todo o setor de máquinas e implementos. Além disso é um setor disseminado por vários municípios. O grande mérito é trazer para o debate o especialista de um país que encontrou soluções inovadoras”, destacou na abertura do seminário!
Pela manhã, os palestrantes Soraya Tanure, professora da UFRGS e José Miguel Pretto, consultor da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), traçaram um painel sobre a realidade produtiva da pecuária no segmente corte e leite. Soraya abordou os gargalos técnicos, de organização, produção e conhecimento que limitam o segmento no RS. De acordo com a pesquisadora, hoje são produzidos 70 kg de carne por hectare no Estado. Com ajustes nos gargalos citados, a produção poderia saltar para 400 kg. “Temos ainda uma peculiaridade valiosa que é o bioma pampa. Um ambiente que só existe aqui, com diversidade de mais de 2000 plantas que são a nutrição perfeita para uma carne de altíssima qualidade”, destacou. O setor leiteiro por sua vez produz no Brasil 35 bilhões de litros por ano. Desse total, a maior parte vem do Sul (com 12 bilhões) seguido pelo Sudeste (com 11 bilhões). Dentre os Estados, o ranking posiciona Minas Gerais (9 bilhões de litros por ano), Paraná (4 bilhões e 660) e RS (4.600). “Os últimos dados mostram em torno de 84 mil produtores de leite no RS. É um setor relevante, disseminado por muitos municípios, com um grande potencial. No entanto, trata-se de uma cadeia produtiva ainda muito aberta e de baixa, muito baixa coordenação. Estamos distantes do mercado consumidor perdendo espaço na agricultura para o centro-oeste. O leite e a carne podem ser entendidos como o setor mais promissor. Contudo, é preciso negociar um projeto de longo prazo, como a integração pecuária-pecuária debatida aqui hoje”, defendeu.
No painel a tarde, o especialista, pesquisador e produtor neozelandês Philip Taylor apresentou o case da sua fazenda que da iminência da falência passou a ter lucratividade depois que passaram a intensificar métodos para a criação de gado de leite e de corte, como o Techno Grazing, que permite uma melhor infraestrutura com cercas elétricas permanentes e cercas móveis, com rotatividade no pasto, oferecendo uma grama de maior qualidade para o gado.
Taylor também lembrou que passaram a comercializar direto, sem intermediários, o que aumentou a lucratividade, além de passarem a criar touros, que são mais lucrativos. Salientou que no Brasil ainda não há uma estrutura adequada para intensificar essa produção, que exige habilidades e equipamentos especializados. Lembrou que ele consegue 700 quilos de carne por hectare, enquanto o Brasil só consegue 70 quilos por hectare. No entanto, admitiu que não teve ainda muito conhecimento sobre o que fazem os fazendeiros brasileiros, embora acredite que se for como no Uruguai, onde implantaram o método Techno Grazing, o Brasil consegue duplicar seu lucro neste setor.
O seminário prossegue nesta sexta- feira.
Sandra Bitencourt-Jornalista/ com informações e fotos de Roseli Santos-assessora de Comunicação da Faccat