Em 2016, a inflação brasileira apresentou uma queda substancial, caindo para 6,3%, após um índice de 10,7% em 2015. “A queda foi tão drástica e tão rápida, que analistas já estão com a expectativa de que, em 2017, ela poderá ficar abaixo do centro da meta e as autoridades monetárias já consideram, inclusive, a possibilidade de reduzir a meta para os próximos anos”, analisa o economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE) André Luis Contri.
No texto A queda na Inflação e os seus determinantes, divulgado nesta quinta-feira (23/3), na Carta de Conjuntura de março da FEE, o pesquisador traz uma análise dos componentes da inflação para explicar tanto o seu aumento nos anos anteriores, como a sua acentuada queda em 2016.
O economista da FEE agrega variáveis como a inflação dos serviços que, por dez anos, esteve sistematicamente acima do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), essencialmente como decorrência do recuo do desemprego a partir de 2004 e que agora volta a subir; bem como evidencia que um dos principais responsáveis pelo crescimento inflacionário em 2015 foi o ajuste nos preços monitorados, isto é, nas tarifas de serviços públicos e outros preços controlados. Já em 2016, o crescimento deste setor foi de 5,5%, ou seja, abaixo do IPCA.
O crescimento do salário real por trabalhador na indústria acima da produtividade, pontuado como um componente inflacionário desde 2008 e que no cenário atual não existe mais, e a queda acentuada em todos os componentes da demanda agregada, com exceção das exportações, são variáveis também discutidas, além da relação dívida pública/PIB , já que, em 2016, quando esta relação apresentou uma trajetória aceleracionista, a inflação se reduziu.
Para Contri, “Não é de surpreender que a depressão que a economia brasileira entrou em 2015 e 2016 tenha sido tão eficiente no combate à inflação. Há que se destacar, no entanto, que o ajuste fiscal promovido pelo governo, o qual tem aprofundado a recessão, e também a valorização cambial observada no último ano, têm tido efeitos extremamente nocivos sobre a produção industrial, sobre o mercado de trabalho e também sobre as condições de reprodução social”.
Outro destaque da Carta de Conjuntura parte da sexta edição da Pesquisa de Inovação (Pintec), organizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que traz indicadores das inovações de produto, de processo, organizacionais e de marketing das empresas das indústrias extrativa e de transformação do Brasil e do Estado do RS. Os dados são analisados na pesquisa a Cooperação para inovar nas empresas gaúchas: avanços recentes frente aos desafios atuais, do pesquisador em Geografia da FEE Iván Peyré Tartaruga
Com exceção do triênio 2009-11, o Estado gaúcho é líder no Brasil em termos de cooperação em projetos de pesquisa, desenvolvimento e de inovação. Na edição mais recente da Pintec (2012-14), o RS alcançou sua maior taxa de cooperação (19,7%), o que equivale, em números absolutos, a 915 firmas, juntamente com um aumento apreciável em relação ao período anterior (2009-11), quando apresentava 9,3% . No comparativo com os principais estados do País, o RS novamente assume uma posição de destaque, seguido de perto por MG, RJ, ambos com aproximadamente 17%, SP (15,4%) e as outras unidades da Região Sul, PR (14,1%) e SC (12,6%).
O texto salienta que, apesar do valor que todos os tipos de parceria possuem para as atividades de inovação, há um que adquire atenção especial para a geração das inovações mais radicais: universidades e institutos de pesquisa. “Efetivamente, as regiões e os países mais inovadores apresentam frequentemente importantes projetos de inovação vinculados ao trabalho conjunto de empresas com instituições de pesquisa e/ou de ensino superior. Nesse quesito, o RS também exibe uma situação de realce no cenário nacional”pondera Iván Tartaruga.
Outros temas em debate na Carta de Conjuntura:
Emprego na produção de equipamentos de saúde aumenta no RS –Áurea C. M. Breitbach
Uma Análise Descritiva dos Gastos com Pessoal Ativos e Inativos no RS em 2015 – Bruno Caldas
Defasagem e injustiça tributária na aplicação do IPTU de Porto Alegre – Antonio Albano
A política de patrimônio material e os centros históricos urbanos: Brasil e Rio Grande do Sul – Gabriele dos Anjos
Íntegra da Carta de Conjuntura FEE
Anelise Rublescki – Jornalista