A Fundação de Economia e Estatística divulgou nesta terça-feira (24/2) a Carta de Conjuntura com análises sobre o cenário econômico regional e nacional do mês de fevereiro.
Nesta divulgação foi abordada, entre outros temas, A encruzilhada da participação do salário na renda (texto de Alessandro Donadio Miebach), já que dados sugerem que o crescimento da participação do salário na renda foi o propulsor do surgimento da denominada “nova classe média”. Isso fica explícito ao se considerar que, ao longo da última década, o salário real cresceu de maneira acentuada, em um contexto de crescimento moderado, porém constante, do nível de emprego. Esse cenário possibilitou a inclusão de um enorme contingente de novos consumidores na economia brasileira. Ao mesmo tempo, observaram-se novas dinâmicas empresariais que objetivavam criar produtos e serviços para esses novos consumidores. Os principais fatores que colaboraram para esse processo inclusivo foram: (a) a política de valorização do salário mínimo; (b) a expansão do crédito ao consumo; (c) as políticas governamentais expansionistas. Note-se que esse processo, ao engendrar o crescimento da demanda, teve a tendência a retroalimentar o crescimento da participação do salário na renda.
Contudo, as novas diretrizes macroeconômicas sinalizam contração dos gastos públicos e aumento de juros, com o correspondente aumento do custo do crédito. O salário mínimo, mesmo com a manutenção das atuais regras de correção, tende a crescer pouco. Dessa forma, existe a tendência de estagnação ou de queda tanto do nível de emprego quanto do salário real. Isso sinaliza uma redução da participação do salário na renda. Caso essa tendência seja confirmada e ocorra reversão na trajetória recente da distribuição funcional da renda, os próximos anos podem mostrar-se mais difíceis tanto para os trabalhadores brasileiros quanto para os empresários que vendem bens e emprestam recursos a esses trabalhadores.
Para o pesquisador da FEE Alessandro Donadio Miebach, “o desafio que se apresenta à economia brasileira é o de que as recentes modificações na condução da política macroeconômica não comprometam as conquistas da chamada ‘década inclusiva’. O sucesso ou o fracasso de enfrentar tal desafio irá constituir-se no critério pelo qual os formuladores de política econômica serão avaliados”. Confira vídeo do pesquisador falando sobre seu texto da Carta de Conjuntura.
Já no artigo da contracapa, o economista e pesquisador Rodrigo Morem da Costa aborda Sustentabilidade e inovação na indústria automobilística, lembrando que os transportes são vistos como um dos principais responsáveis pela emissão de gases do efeito estufa (GEE). No atual debate sobre aquecimento global e mudança climática, num cenário cada vez mais restritivo, o Intergovernmental Panel on Climate Change estima que, para estabilizar a temperatura do planeta em aproximadamente 2ºC acima dos níveis pré-industriais, as emissões antropogênicas de gases do efeito estufa (GEE) precisam ser reduzidas entre 40% e 70% até 2050, em relação aos níveis de 2010, e zeradas até 2100.
Para Rodrigo Morem da Costa, em termos das tecnologias que atenuam o problema, “os esforços abarcam os diversos sistemas que compõem os autoveículos: reduções de peso, pela adoção de novas ligas metálicas e novos materiais; criação de designs com menores coeficientes de arrasto aerodinâmico; automatização de autoveículos, com interação com o tráfego na via, para diminuir os engarrafamentos e reduzir o consumo de combustível; refinamentos na eficiência dos motores de combustão interna; e uso de combustíveis alternativos: biodiesel, bioetanol, gás natural comprimido, hidrocarbonetos e hidrogênio. Ademais, estão sendo introduzidos, no mercado, sistemas de propulsão híbridos que reduzem ainda mais as emissões de GEE”. Para o pesquisador, a principal solução para o problema ambiental dos autoveículos consiste no desenvolvimento do sistema de propulsão de “emissão zero”.
Os textos completos da Carta de Conjuntura de fevereiro podem ser acessados aqui. Confira também fotos da divulgação de hoje.