Crise suspende redução das desigualdades e intensifica desemprego entre as mulheres

Os indicadores do mercado de trabalho na Região de Porto Alegre mostram que  a recessão que atingiu o biênio 2015-2016 aumentou o desemprego entre as mulheres e interrompeu o processo de redução das desigualdades entre mulheres e homens no âmbito laboral na última década. As informações foram divulgadas nesta terça-feira, 06 de março, no Boletim Especial A inserção das mulheres no mercado de trabalho na RMPA em 2017, produzido pela FEE, DIEESE e FGTAS.

Pesquisadoras da FEE, DIEESE e FGTAS apresentam os dados do Informe Especial sobre a inserção das mulheres no mercado de trabalho

Esses dados revelam um mercado de trabalho regional com comportamento adverso pelo terceiro ano consecutivo. A taxa de desemprego total aumentou de 10,7% em 2016 para 11,2% da População Economicamente Ativa (PEA) em 2017, com um incremento estimado em 3 mil pessoas desempregadas de um ano para o outro. Apesar da saída numerosa de pessoas do mercado de trabalho (menos 55 mil pessoas, ou -2,9%), o nível ocupacional reduziu-se em maior montante (menos 58 mil pessoas ocupadas, ou -3,4%), o que resultou na elevação do contingente de desempregados. O total de ocupados foi estimado em 1.628 mil pessoas, sendo 44,9% de mulheres.

A taxa de desemprego total das mulheres aumentou pelo terceiro ano consecutivo, passando de 11,2% em 2016 para 12,4% da PEA em 2017 e elas voltaram a ser a maioria (50,4%) no total de desempregados. A taxa de desemprego aberto subiu de 10,2% para 11,4%, e a taxa de desemprego oculto se manteve estável em 1,0% no último ano. Para os homens, a taxa de desemprego total se manteve estável em 10,2% em 2017. Destaca-se que a desigualdade entre as taxas de desemprego total feminina e masculina passou de 1,0 p.p em 2016, para 2,2 p.p em 2017, mais que dobrando.

“Em 2017, o contingente de desempregados foi estimando em 103 mil mulheres, um acréscimo de 5 mil em relação ao ano anterior. Esse resultado deveu-se ao fato de a redução na ocupação (menos 48 mil ocupados, ou -6,2%) ter sido superior à saída delas no mercado de trabalho (menos 43 mil pessoas, ou -4,9%). Para os homens, a redução de 2 mil desempregados, em relação a 2016”, compara Iracema Castelo Branco, economista da FEE e coordenadora da PED.

O tempo médio de procura por trabalho  que após alguns anos de estabilidade teve em 2017 o ano mais severo para ambos os sexos, aumentou em 3 semanas, ao passar de 35 semanas em 2016 para 38 semanas em 2017. Para as mulheres o aumento foi maior, em 2016 eram 35 semanas e em 2017, 39 semanas. Já para os homens, o tempo médio aumentou de 35 semanas para 37, no último ano.

O nível de ocupação das mulheres em 2017 também teve redução de 6,2%, com a perda de 48 mil postos de trabalho, este é o quarto ano consecutivo de queda e a maior retração do nível ocupacional da série histórica da Pesquisa. E essa queda tem maior intensidade entre as trabalhadoras assalariadas, destaca Iracema: “considerando o setor privado, a retração foi de 5,5% para as mulheres (menos 23 mil empregadas) e de 0,9% para os homens (menos 5 mil empregados). Foi o segundo ano consecutivo no qual o fechamento de postos de trabalho atingiu mais as mulheres do que os homens. No setor público, a redução foi de 15,8% para as mulheres (menos 18 mil servidoras) e de 15,2% para os homens (menos 12 servidores)”.

Pelo terceiro ano consecutivo houve aumento no contingente de mulheres ocupadas no emprego doméstico (4,4%), com aumento de 16,1% entre as diaristas e redução de 1,2% entre as mensalistas.  “Esses dados indicam um processo de precarização do mercado de trabalho para as mulheres, à medida que aumentam as ocupações consideradas de menor qualidade”, diz Iracema, alertando que no contexto de crise e redução do emprego assalariado, o emprego doméstico é alternativa de trabalho para as mulheres e o trabalho autônomo para os homens.

O setor com maior retração foi o de serviços, 9,2%,fechando 49 mil postos de trabalho ocupados por mulheres em 2017.  A proporção de mulheres ocupadas nesse setor reduziu-se de 68,7% em 2016 para 66,5% em 2017.

Como historicamente acontece, as mulheres permaneceram mais escolarizadas do que os homens, entretanto observa-se, pelo segundo ano consecutivo, uma redução nos níveis mais altos de escolaridade em relação ao ano anterior. Aquelas com ensino médio completo ou superior completo em 2016 eram 66,5% do contingente de ocupadas, tendo diminuído para 65,1% em 2017. Entre os homens ocupados, essa proporção passou de 58,8% para 55,9%, no mesmo período.

Embora mais escolarizadas, em 2017 as mulheres obtiveram o equivalente a 81,9% do rendimento médio dos homens ocupados, frente a 80,2% do ano anterior. Destaca-se que esse é o terceiro ano consecutivo em que a redução do rendimento médio real é menor entre as mulheres do que entre os homens. A redução no rendimento médio real entre as mulheres foi de 2,9% (passando de R$ 1.747 para R$ 1.696), e, entre os homens, de 4,8% (passando de R$ 2.176 para R$ 2.072).

 

Sandra Bitencourt- Jornalista