Carta de Conjuntura FEE analisa elevação dos crimes violentos no RS entre 2002 e 2014

A Carta de Conjuntura de julho de 2015, edição nº 07, traz como destaque de capa estudo sobre Os principais crimes violentos no RS (2002-14), da socióloga Carina Ribas Furstenau e do estatístico Renan Xavier Cortes. Com base nas estatísticas de ocorrências criminais publicadas pela Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul, no período de 2002 a 2014, os pesquisadores da FEE analisaram as variáveis de roubo de veículo, tráfico de entorpecentes, homicídio doloso, latrocínio (roubo seguido de morte) e extorsão mediante sequestro, em todo o Estado. Os dados foram analisados por 100 mil habitantes, com exceção do roubo de veículos, dividido pela frota de passageiros. Os resultados foram apresentados no lançamento da publicação nesta quinta-feira, 09, na sede da FEE.

CARTA09-07

O texto mostra uma elevação de 27 % nas taxas de ocorrências nos últimos 12 anos, passando de 634,09 em 2002 para 805,46 em 2014. O tráfico de entorpecentes foi o crime no qual prevalece a maior variação. De 15 ocorrências a cada 100 mil habitantes em 2002 passou para 90,71 em 2014. A socióloga Carina Furstenau destaca que ao olhar a série histórica, esse foi o crime que percentualmente mais cresceu, ultrapassando 500% e produzindo efeito sobre outros crimes, como o homicídio. “Não quer dizer que um seja determinante do outro, mas tem uma correlação muito alta entre o tráfico e o homicídio. Chegamos a um percentual de correlação de 0,836, em uma escala de 0 a 1”, explica Carina.

As taxas de homicídio doloso também apresentaram alta significativa, passando de 15,3 em 2002 para 21,5 em 2014. Os pesquisadores apontam algumas evidências utilizadas para avaliação. “Em 2006, houve aprovação da lei para enfrentamento às drogas. E é a partir desse ano que ocorre elevação, o que leva a supor que a nova lei provocou mais ações e notificações”, analisa. Um outro aspecto importante que o estudo revela é o mapeamento das ocorrências dos crimes violentos. Apenas quatro cidades no Estado (menos de 1% dos municípios) concentram mais da metade das ocorrências. Porto Alegre, Canoas, Caxias do Sul e Novo Hamburgo, com 22 % da população, registram 52% dos crimes violentos.

Na contracapa desta edição, o estudo em destaque é “A dupla jornada e a diferença da idade para a aposentadoria de homens e mulheres”, do estatístico Pedro Tonon Zuanazzi, que analisa as manifestações contrárias à diferença de idade de cinco anos entre homens e mulheres para requerer a aposentadoria. De acordo com o pesquisador, os argumentos acionados por essa contrariedade referem-se à maior expectativa de vida das mulheres e à igualdade de direitos. Com relação ao tempo maior de vida, o estatístico aponta que,  em média, as mulheres se expõem menos a riscos de morte porque  se envolvem menos em violências, participam menos de acidentes de trânsito, fumam menos, consomem menos bebidas alcoólicas e possuem uma preocupação maior com cuidados de sua saúde. Assim, se os homens se expusessem menos a situações de perigo e cuidassem mais de sua saúde também teriam a expectativa de viver mais. Já com relação à reivindicação de igualdade de direitos, o autor destaca a premissa que orientou a diferença inscrita na constituição brasileira, justificada pela dupla jornada,  já que as tarefas domésticas e o cuidado das crianças ainda recaem sobre as mulheres. O autor demonstra que vem ocorrendo alteração nesses papéis sociais e que a diferença de idade para se aposentar possa ser eliminada na medida em que se alcance a igualdade de participação no lar. No entanto, enquanto a dupla jornada persistir, o ideal é buscar alternativas. Zuanazzi aponta a regra adotada na Eslováquia e na República Tcheca: “a idade para a aposentadoria das mulheres depende do número de filhos criados ao longo da vida. Aquelas que não possuem filhos se aposentam com uma idade um pouco inferior à dos homens, pois, nesse caso, o efeito da dupla jornada é menos acentuado. Porém, com o aumento do número de filhos, a idade para a aposentadoria das mulheres se reduz. Isso beneficia aquelas de baixa renda, que possuem, em média, mais filhos e têm menos recursos para enfrentar a dupla jornada”, explica. Para o pesquisador a lógica da diferença de idade para requerer aposentadoria está na compensação. “Enquanto houver diferenças na dupla jornada essa compensação faz sentido”, afirma.

A Carta de Conjuntura de julho traz ainda os seguintes estudos dos pesquisadores da FEE:

  • Bem-estar urbano na Região Metropolitana de Porto Alegre, da cientista social Daiane Menezes
  • Evolução da produção da uva e do vinho no RS, da economista Carolina Agranonik
  • Riquezas minerais e suas controvérsias, da Doutora em economia Clarisse Chiappini Castilhos
  • Desempenho do emprego formal, segundo as ocupações, no RS, em 2015, do economista André Luiz Leite Chaves
  • Expansão da população asiática no Brasil e no RS, da estatística Gisele da Silva Ferreira
  • Aumento dos juros e risco de desaceleração nos EUA, do economista Augusto Pinho de Bem

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