Diante de uma das maiores crises hídricas já enfrentadas pelo Brasil, que atinge especialmente a Região Sudeste e o Estado de São Paulo, a Carta de Conjuntura de março da Fundação de Economia e Estatística (FEE) aborda, dentre outros temas, se o RS também corre o risco de enfrentar uma crise hídrica. A Carta foi divulgada na manhã desta terça-feira (24), na sede da FEE.
Para a geógrafa e autora do estudo, Mariana Lisboa Pessoa, o Rio Grande do Sul agrega dois fatores muito positivos. Primeiro, apesar de estar havendo mudanças no regime de precipitação do Estado, fazendo com que as chuvas se distribuam de maneira desigual ao longo do ano, o volume acumulado não apresenta variações significativas. E, além disso, o RS possui uma grande densidade de rios, lagos e reservatórios subterrâneos.
Contudo, salienta a pesquisadora da FEE que “A Agência Nacional de Águas considera o RS como uma das situações mais críticas de desequilíbrio entre disponibilidade e demanda de água no País, juntamente com o semiárido nordestino. Isso porque a disponibilidade está relacionada não apenas com a quantidade, mas também com a qualidade de água disponível”.
No quesito qualidade e aproveitamento racional dos recursos hídricos, o Estado do Rio Grande do Sul apresenta números preocupantes:
– apenas 31,2% do esgoto são coletados e 12,6% são tratados. No Brasil, esses valores são de 54,2% e 39%;
– três dos 10 rios mais poluídos do Brasil estão no RS − Sinos, Gravataí e Caí;
– o intenso uso de agrotóxicos (quase o dobro da média nacional, e o desperdício, que ultrapassa os 37% do total de água distribuída no Estado, também contribuem para essa situação critica.
Para Mariana Lisboa Pessoa, o RS já sofre uma “crise crônica”, com baixa qualidade da água e desequilíbrio entre disponibilidade e demanda. Alerta a pesquisadora para a necessidade urgente de implementação de medidas que evitem que uma crise crônica se transforme em aguda, como já ocorre no Sudeste do País.
O outro destaque da Carta de Conjuntura da FEE é a análise dos motivos que fizeram com que as exportações gaúchas de couro superassem as de calçados e suas partes em 2014, passando de 15% em 2003 para 3% em 2014.
Para o pesquisador da FEE Tomás Amaral Torezani, dentre os motivos para a forte redução das exportações de calçados do RS, destacam-se:
– ascensão da China e de outros países asiáticos neste setor;
– deslocamento de fábricas para outras regiões brasileiras (sobretudo, Nordeste);
– valorização cambial ocorrida a partir de meados dos anos 2000;
– substituição do couro por materiais sintéticos.
Por outro lado, as exportações gaúchas de couro curtido cresceram substancialmente em 2013 e 2014, a despeito de se manterem relativamente estáveis entre 2003 e 2012. Explicam esse resultado os aumentos nas vendas de couro em 2014, principalmente, para Estados Unidos, China e Vietnã e Coreia do Sul.
Tomás Torezani salienta que “O Rio Grande do Sul vem deixando de exportar um bem manufaturado para exportar diretamente o seu insumo, o que gera consequências negativas tanto no curto prazo quanto no longo prazo”.
Os dados já disponíveis para 2015 (janeiro e fevereiro) revelam diminuição no valor e no volume exportado de calçados e de couro em 2014, ainda que, como salienta o autor do estudo, “A desvalorização cambial em curso pode ser um alento para a competitividade das exportações gaúchas de couro e calçados”.
Para saber mais sobre os dois temas, acesse os estudos completos. Veja também os vídeos com a síntese das pesquisas e as fotos da coletiva.