Crescimento de percentual de jovens que só estudam, redução das desigualdades de gênero e maior escolaridade são elementos positivos
No mês que marca o Dia da Juventude no Brasil, a FEE, DIEESE e FGTAS apresentaram nesta sexta-feira, 23, informações sobre o jovem e o mercado de trabalho na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), referentes ao período entre 2000 e 2015. No contexto da recessão econômica, registra-se aumento de 36,8% da taxa de desemprego entre os jovens, de 2014 a 2015. Contudo, estruturalmente também cresceu a proporção de jovens que exclusivamente estudam, qualificando suas possibilidades para disputar uma vaga no futuro. Trata-se do primeiro informe especial do sistema PED produzido no país sobre esse segmento da população (entre 16 e 24 anos). O Secretário do Trabalho e do Desenvolvimento Social do Estado, Catarina Paladini, presente na divulgação, enfatizou a importância da pesquisa para balizar políticas públicas. “Quem não mede, não controla. Esse estudo é uma orientação importante para desenvolver políticas públicas na área do trabalho e para a juventude e ajuda a qualificar a discussão de pontos importantes para o desenvolvimento do Estado, como a reforma da previdência”. O secretário ainda exaltou a relevância do trabalho desenvolvido pela FEE e parceiros. “Como gestores, temos uma grande responsabilidade de provocar a mudança e esses parâmetros são fundamentais para orientar nossa ação. A luta empreendida há pouco pela manutenção da PED se justifica e se reafirma com este informe. Parabéns pela seriedade de vocês, apenas com um informe como esse já justificamos a permanência dessa pesquisa. Temos que saber ouvir e reconhecer um trabalho técnico fundamental”, elogiou Paladini. Também presentes na divulgação, as representantes do Conselho Estadual da Juventude, Neusa Cavalheiro e da Secretaria a Juventude de Porto Alegre, Marina Minhote, manifestaram interesse em utilizar os dados para aprofundar ações conjuntas destinadas aos jovens do RS e da Região Metropolitana.
Com o cuidado de observar questões estruturais ao lado da análise conjuntural, o informe busca compreender a realidade da juventude frente ao mercado de trabalho a partir de fatores demográficos e socioeconômicos. Elementos estruturais contribuem para entender as alterações na força de trabalho jovem, como por exemplo, a dinâmica de crescimento da população juvenil, o processo de transição da escola para o trabalho e os níveis de escolarização também incidem em suas perspectivas laborais. Os dados e tendências capturadas no estudo revelam: redução da população juvenil, menor engajamento no mercado de trabalho, maior escolarização, maior desemprego.
O perfil demográfico da população na RMPA vem mudando, diminuindo o peso relativo dos jovens na População em Idade Ativa (PIA), sendo que a partir de 2011 a proporção deles passa a ser menor que a de idosos (60 anos e mais). A população jovem na RMPA, que cresceu até 2004, vem reduzindo continuamente o seu contingente desde então. O número de jovens já diminuiu em 96 mil pessoas entre o ano de 2004 e 2015 . Este comportamento é antagônico ao observado entre os adultos (indivíduos de 25 a 59 anos), que apresentou incremento de 247 mil pessoas no mesmo período. “A expectativa é que essa tendência se mantenha em decorrência do processo de transição demográfica”, prevê Iracema Castelo Branco, economista da FEE.
Força de trabalho jovem: conjuntura de desemprego e mudanças estruturais
A força de trabalho jovem decresce no mesmo período, refletindo a redução da proporção de jovens na População Economicamente Ativa (PEA), que passou de 24,5% em 2004 para 16,9% em 2015, ou seja, diminuíram 114 mil pessoas nessa faixa etária, enquanto entre os adultos houve incremento de 202 mil pessoas. A taxa de participação dos jovens apresentou trajetória de descenso, ao passar de 70,5% em 2000 para 61,6% em 2015, diferentemente da relativa estabilidade observada entre os adultos. Esse menor engajamento dos jovens no mercado de trabalho indica o adiamento do seu ingresso nas atividades laborais.
Os jovens estão numa fase particular do ciclo da vida, na qual se dá a transição da escola para o trabalho. É possível observar esse movimento estabelecendo perfis e categorias na combinação entre estudo e trabalho.
A conjuntura de crise econômica em 2015 atingiu com severidade os jovens. A taxa de desemprego passou de 14,4% em 2014 para 19,7% em 2015, um aumento de 36,8%, a maior elevação para médias anuais desde o ano 2000. O contingente de jovens desempregados foi estimado em 65 mil em 2015, acréscimo de 18 mil em relação ao ano anterior. Entre os adultos, os efeitos do desemprego foram mais agudos: aumento de 53,5% na taxa de desemprego. “A situação dos jovens é estruturalmente mais adversa no mercado de trabalho, mas na crise de 2015, a situação se deteriorou mais para os adultos”, explica o economista da FEE Raul Bastos. O mesmo ocorreu com os rendimentos. A redução do rendimento médio real dos ocupados na RMPA foi de 4,0% entre os jovens e de 8,8% entre os adultos.
Entre as mudanças com caráter mais estrutural, alguns aspectos podem ser destacados como positivos. A proporção de jovens com ensino médio completo aumentou de 34,1% em 2000 para 46,6% em 2015, tendência que também foi observada entre aqueles com o ensino superior completo, ao passar de 1,3% para 2,4% nesse período. Outro fator relevante é a redução das desigualdades de gênero. A trajetória de redução do hiato entre a taxa de desemprego de homens e mulheres jovens atingiu, em 2015, o menor patamar desde o ano 2000 (2,2 pontos percentuais).
Analisando o período 2014-2015, verifica-se ainda uma tendência de aumento entre aqueles que só estudam (de 25,9% para 26,8%), o que pode ser derivado do processo de estruturação do mercado de trabalho da última década, o que permite ao jovem maior qualidade de ingresso no mercado de trabalho. Entretanto, o aumento na parcela de jovens que somente trabalha (de 40,9% para 42,2%) pode ser considerado um dos primeiros sinais da crise e deterioração no mercado de trabalho em 2015.
Sandra Bitencourt- Jornalista