Indicadores econômicos do agronegócio do Rio Grande do Sul — resultados do terceiro trimestre de 2016

A Fundação de Economia e Estatística (FEE) está divulgando as estatísticas do emprego formal celetista e das exportações do agronegócio do Brasil e do Rio Grande do Sul referentes ao terceiro trimestre de 2016.

Em seguida, são descritos e analisados os resultados dessas estatísticas para o Rio Grande do Sul. A FEE calcula as estatísticas do agronegócio nas versões restrita e ampla. A descrição e a análise dos resultados apresentados na sequência referem-se à versão restrita do agronegócio. Para mais detalhes, ver notas metodológicas de emprego e de exportações.

Exportações do agronegócio do RS

As exportações de mercadorias do agronegócio gaúcho totalizaram US$ 3,450 bilhões no terceiro trimestre de 2016, valor que correspondeu a 72,1% das vendas externas totais do Estado. Na comparação com igual período de 2015, o valor exportado apresentou queda de 5,8%, o volume exportado caiu 9,3%, enquanto os preços subiram 3,9%.

No Rio Grande do Sul, historicamente, o segundo e o terceiro trimestres concentram aproximadamente dois terços das exportações totais do agronegócio. Esse resultado é explicado pela dinâmica das vendas de grãos — sobretudo da soja — colhidos na safra de verão (Gráfico 1).

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Na análise da evolução mensal, observa-se que, nos primeiros meses do ano, o valor das exportações do agronegócio gaúcho foi inferior ao verificado em 2015. A partir de maio, o valor exportado em 2016 passou a ser superior até o mês de agosto. A expressiva queda nas vendas em setembro condicionou o resultado do terceiro trimestre de 2016 (Gráfico 2). Parte dessa dinâmica é explicada pela forte queda ocorrida no volume exportado de soja em grão neste mês, comparativamente a setembro de 2015 (-58,9%). Dessa forma, apesar da maior safra de soja, ainda não é possível observar o impacto dessa elevação nas exportações. Para o quarto trimestre de 2016, há espaço para um incremento substancial no volume exportado de soja, porém esse movimento estará condicionado em grande medida pelo comportamento da demanda chinesa e pelas estratégias de comercialização da safra norte-americana.

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No terceiro trimestre de 2016, os cinco principais setores exportadores do agronegócio do Rio Grande do Sul foram complexo soja (US$ 1,9 bilhão), carnes (US$ 499,2 milhões), fumo e seus produtos (US$ 491,8 milhões), produtos florestais (US$ 177,1 milhões) e couros e peleteria (US$ 97,0 milhões).

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No terceiro trimestre de 2016, comparativamente a igual período do ano anterior, os setores do agronegócio gaúcho que registraram as maiores variações absolutas positivas em valor foram: produtos florestais (US$ 15,4 milhões; 9,6%), sucos (US$ 4,2 milhões; 61,1%), máquinas e implementos agrícolas (US$ 3,7 milhões; 5,1%) e produtos hortícolas, leguminosas, raízes e tubérculos (US$ 3,3 milhões; 183,3%). Os principais produtos desses setores são madeira serrada, sucos de laranja, colheitadeiras e batata-doce.

Apesar da elevação nas exportações de alguns setores, a dinâmica dominante no trimestre foi de queda. As principais reduções absolutas nos valores exportados ocorreram nos setores de carnes (menos US$ 54,1 milhões; -9,8%), fumo e seus produtos (menos US$ 54,0 milhões; -9,9%), soja (menos US$ 41,4 milhões; -2,2%), lácteos (menos US$ 38,5 milhões; -78,0%) e cereais, farinhas e preparações (menos US$ 24,7 milhões; -32,8%) (Gráfico 3). Os produtos que determinaram a dinâmica desses setores foram: carne de frango; fumo não manufaturado; soja em grão; leite em pó e arroz.

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No setor de carnes, o menor volume embarcado foi o principal determinante da redução no valor exportado no terceiro trimestre deste ano. A carne suína figurou como exceção no setor, apresentando alta de 8,2% em volume e 0,4% em valor. Para a carne bovina, verificou-se crescimento no volume embarcado (1,1%), porém a queda nos preços médios (-6,5%) foi determinante para a redução no valor exportado (-5,4%). Apesar da liberação da exportação brasileira de carne bovina in natura para os EUA, ainda não há frigoríficos gaúchos habilitados para realizar essa operação. As exportações de carne de frango foram as de pior desempenho no setor. No trimestre, houve queda no volume embarcado (-11,6%) e nos preços médios (-4,8%), redundando em uma significativa diminuição no valor exportado neste trimestre (-15,8%), comparativamente a 2015.

A queda de 12,2% no volume embarcado de produtos do complexo soja foi surpreendente, tendo em vista o crescimento da safra gaúcha neste ano (3,1% segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)). A desvalorização do dólar, a redução do prêmio de exportação e a expectativa de entrada da safra norte-americana no mercado são fatores apontados para explicar essa queda, acentuada no mês de setembro. Contudo ainda há expectativa de crescimento no volume embarcado no quarto trimestre de 2016, provavelmente de magnitude suficiente para que o volume exportado no ano seja superior ao verificado em 2015.

A queda nas exportações do setor de fumo e seus produtos pode ser atribuída à menor disponibilidade de matéria-prima. Segundo o IBGE, na última safra a produção gaúcha de fumo foi 22,0% menor que a de 2015. Apesar de não haver uma sintonia perfeita entre o volume colhido e a exportação do Rio Grande do Sul, é provável que o encolhimento da safra ofereça grande contribuição para explicar a queda nas vendas do fumo não manufaturado (-10,9% em valor e -18,9% em volume).

Os principais destinos das exportações do agronegócio gaúcho no terceiro trimestre de 2016 foram China (US$ 1,4 bilhão), União Europeia (US$ 556,0 milhões), Irã (US$ 171,7 milhões), Estados Unidos (US$ 127,0 milhões), Coreia do Sul (US$ 126,0 milhões), Rússia (US$ 94,5 milhões) e Arábia Saudita (US$ 76,8 milhões). Somados, esses sete destinos responderam por 75,1% das exportações gaúchas do agronegócio no período.

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Em relação às variações no trimestre, comparativamente a 2015, os principais aumentos foram para o Irã (US$ 141,4 milhões; 466,5%), a União Europeia (mais US$ 128,7 milhões; 30,1%) e o Paquistão (mais US$ 28,0 milhões; 6.008,0%). Para esses três destinos, o desempenho é explicado principalmente pelas vendas do complexo soja. Porém, nesse trimestre, o incremento nas exportações do setor de sucos conferiu-lhe relevância entre os setores que a União Europeia tradicionalmente demanda (fumo e seus produtos, complexo soja e carnes). As exportações do setor de sucos, em particular os sucos de laranja, apresentaram uma elevação de aproximadamente sete milhões de dólares.

Embora tenha ocorrido crescimento do valor exportado para diversos países, o que determinou a performance no terceiro trimestre deste ano foram às quedas nas vendas para a China (menos US$ 307,1 milhões; -17,6%), Venezuela (menos US$ 113,8 milhões; -74,9%) e Vietnã (menos US$ 111,8; -81,1%). Para a China e Vietnã, as reduções ocorreram no complexo soja. Para a Venezuela, houve uma redução generalizada das exportações, com destaque para os setores de carnes (carne de frango), lácteos (leite em pó), cereais, farinhas e preparações (arroz) e máquinas e implementos agrícolas (tratores agrícolas).

Acumulado do ano de janeiro a setembro

No acumulado do ano, as exportações do agronegócio gaúcho somaram US$ 8,704 bilhões. Esse valor é 4,5% inferior ao registrado no ano anterior, enquanto os preços sofreram redução média de 2,1% e o volume embarcado reduziu-se 2,4%. Entre janeiro e setembro, os principais setores exportadores do agronegócio do Rio Grande do Sul foram complexo soja (US$ 4,263 bilhões; -4,3%), carnes (US$ 1,425 bilhão; -3,5%), fumo e seus produtos (US$ 1,075 bilhão; -8,7%), produtos florestais (US$ 581,8 milhões; 120,3%) e couros e peleteria (US$ 335,2; -8,9%).

O setor com maior queda absoluta das exportações no acumulado do ano foi o de cereais, farinhas e preparações (menos US$ 225,0 milhões; -40,9%). O trigo foi o principal responsável por essa dinâmica setorial. Comparativamente aos nove primeiros meses de 2015, houve retração de US$ 165,8 milhões nas exportações do produto, o que equivale a uma queda de 64,7%. Esse resultado precisa ser analisado considerando o extraordinário volume exportado em 2015. Tradicionalmente, quando a qualidade do trigo colhido no Estado atende às necessidades da indústria, o cereal é destinado ao mercado doméstico. Por outra parte, safras com baixa qualidade, como a de 2014, tendem a ter uma absorção maior no mercado internacional, sobretudo de países pobres ou em desenvolvimento. Em 2016, os países que apresentaram as maiores quedas nas importações do trigo gaúcho foram Tailândia (menos US$ 82,7 milhões) e Bangladesh (menos US$ 53,9 milhões). Para o restante do ano, há indicativos da intensificação da concorrência para o atendimento do mercado doméstico, o que tende a afetar os preços recebidos pelos triticultores. Além do aumento da produção no Estado, o fim das retenciones na Argentina e a ótima safra do país vizinho são fatores que contribuem para a ampliação da oferta do produto.

Nos nove primeiros meses do ano, os principais destinos das exportações do agronegócio gaúcho foram China (US$ 3,358 bilhões; -7,0%), União Europeia (US$ 1,328 bilhão; 6,6%), Estados Unidos (US$ 336,1 milhões; 24,9%), Irã (US$ 330,9 milhões; 151,6%), Coreia do Sul (US$ 307,0 milhões; -3,6%), Rússia (US$ 230,6 milhões; -20,9%) e Arábia Saudita (US$ 199,7 milhões; -11,7%). Somados, esses sete destinos responderam por 70,0% das exportações gaúchas do agronegócio no ano. Ocorreram quedas significativas nas exportações para China (US$ -252,1 milhões), Vietnã (US$ -193,3 milhões), Venezuela (US$ -144,7 milhões) e Tailândia (US$ -75,1 milhões). Ajudou a abrandar a queda nas exportações o aumento das vendas para Irã (US$ 199,4 milhões), Paquistão (US$ 111,0 milhões), União Europeia (US$ 82,7 milhões) e Estados Unidos (US$ 66,9 milhões).

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Emprego formal celetista do agronegócio do RS

No terceiro trimestre de 2016, foi registrado um saldo negativo de 5.903 postos de trabalho com carteira de trabalho assinada no agronegócio do Rio Grande do Sul, o que representa uma queda de 1,8% no número total de empregos formais do setor, comparativamente ao trimestre anterior. Esse saldo é o resultado da diferença entre o número de admissões (31.140) e o de desligamentos (37.043) de trabalhadores formais celetistas nas atividades características do agronegócio.

Ainda que tenha ocorrido perda de empregos em todos os meses do trimestre, há uma tendência de melhoria no saldo. Esse movimento deriva da recuperação das admissões e redução dos desligamentos entre julho e setembro. Neste último mês, foram fechados 602 postos de trabalho no agronegócio gaúcho.

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Dois dos três segmentos que compõem o agronegócio registraram saldo positivo de empregos terceiro trimestre. No segmento “dentro da porteira”, formado de atividades características da agropecuária, foram criados 723 postos de trabalho, o que equivale a uma alta de 0,9% no estoque. O setor de destaque nesse segmento foi o de produção de lavouras temporárias (mais 827 postos; alta de 2,6% no estoque), resultado que sinaliza o início da mobilização de mão de obra para o cultivo da próxima safra de verão (2016/2017).

No segmento “antes da porteira”, composto de atividades dedicadas ao fornecimento de insumos, máquinas e equipamentos para a agropecuária, houve criação de 692 postos formais de trabalho (alta de 1,7% no estoque de empregos em relação a agosto). O destaque foi o setor de fabricação de tratores, máquinas e equipamentos agropecuários, que, desde o primeiro trimestre de 2014, não apresentava saldo positivo de empregos e criou 481 postos de trabalho no último trimestre. No transcurso desse período, em razão da redução dos investimentos realizados pelos agricultores brasileiros, houve perda de mais de um quarto do estoque de empregos formais na indústria gaúcha de máquinas e equipamentos agropecuários. O saldo positivo no terceiro trimestre de 2016 reflete a retomada da produção nacional de máquinas agrícolas, registradas nas estatísticas da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Comparando o terceiro trimestre de 2016 com igual período de 2015, verifica-se uma alta de 3,9% na produção brasileira de tratores, colheitadeiras e pulverizadores. Na comparação com o segundo trimestre de 2016, o crescimento é ainda maior (31,0%).

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O segmento “depois da porteira”, composto predominantemente de atividades agroindustriais, foi o único com perda de empregos no terceiro trimestre (menos 7.318 postos; queda de 3,7% no estoque). Os meses de julho, agosto e setembro caracterizam-se pela intensificação dos desligamentos no setor de fabricação de produtos do fumo, principal responsável por esse desempenho. Houve perda de 6.997 postos de trabalho na indústria fumageira gaúcha no último trimestre, o que representa uma queda de 54,0% no número de empregos existentes no final do segundo trimestre. No Vale do Rio Pardo, região que concentra essa indústria, uma parcela expressiva da mão de obra contratada nos primeiros meses do ano para o processamento do fumo é desmobilizada a partir do segundo semestre. Além do setor de fabricação de produtos do fumo, o setor de curtimento e preparações de couro também registrou um expressivo saldo negativo no trimestre (-465 postos).

Acumulado do ano de janeiro a setembro

Apesar de o agronegócio gaúcho registrar perda de empregos formais desde abril, no acumulado do ano o saldo continua positivo. Entre janeiro e setembro de 2016, foram criados 1.275 postos de trabalho, o que representa uma alta de 0,4% em relação ao estoque de empregos formais de 31 de dezembro de 2015. O resultado é sensivelmente superior ao verificado em igual período de 2015, quando o saldo foi de 337 empregos.

Até setembro, os setores com maior criação de empregos foram os de produção de lavouras permanentes (1.085 postos; alta de 14,1% no estoque), de comércio atacadista de produtos agropecuários e agroindustriais (798 postos; alta de 2,0% no estoque), de produção florestal (612 postos; alta de 11,5% no estoque) e de fabricação de adubos e fertilizantes (534 postos; alta de 15,4% no estoque). Por outro lado, os setores com maior perda de empregos em 2016 são os de produção de sementes e mudas certificadas (-563 postos; queda de 30,9% no estoque), de fabricação de tratores, máquinas e equipamentos agropecuários (-494 postos; queda de 2,1% no estoque), de fabricação de conservas (-432 postos; queda de 17,8% no estoque) e de produção de lavouras temporárias (-416 postos; queda de -1,3% no estoque).

Últimos 12 meses

Comparativamente ao terceiro trimestre de 2015, o estoque de empregos com carteira assinada no agronegócio gaúcho reduziu-se de 321.282 para 318.138, o que equivale a uma queda de 1,0% nos últimos 12 meses. Portanto, nesse período, foram perdidos 3.144 postos de trabalho no setor.

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Nos últimos 12 meses, o único segmento com criação de empregos foi o “dentro da porteira” (mais 791 postos; alta de 0,9% no estoque). Nesse segmento, as maiores expansões no emprego ocorreram nos setores de produção florestal (mais 570 postos; alta de 10,6% no estoque) e de produção de lavouras temporárias (mais 247 postos; alta de 0,8% no estoque).

No segmento “antes da porteira”, houve perda de 1.907 postos de trabalho (queda de 4,5% no estoque). Apesar dos recentes sinais de reaquecimento da atividade, o setor de fabricação de tratores, máquinas e equipamentos agropecuários continua com saldo acumulado negativo, de 2.145 postos de trabalho, o que representa uma queda de 8,4% no estoque.

A maior redução no estoque de empregos continua sendo verificada no segmento “depois da porteira”. São 2.028 postos de trabalho a menos que no terceiro trimestre de 2015 (queda de 1,0%). Nesse segmento, os setores com as maiores perdas de emprego com carteira assinada foram os de fabricação de produtos do fumo (-1.914 postos; queda de 24,3% no estoque) e de fabricação de produtos intermediários de madeira (-410 postos; queda de 4,2% no estoque). Uma das explicações para o menor número de trabalhadores empregados na indústria do tabaco é a produção nacional de fumo, que apresentou queda de 21,9% em relação a 2015. Portanto, nesse ano, além dos conhecidos fatores inibidores do consumo dos produtos nacionais, a menor disponibilidade de matéria-prima contribuiu para a retração da indústria fumageira gaúcha. Já a perda de empregos no setor de fabricação de intermediários de madeira encontra explicação no quadro recessivo nacional, especialmente no baixo dinamismo da indústria da construção civil e da indústria moveleira local.

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