FEE divulga publicação sobre migrações internacionais

Nesta terça-feira, 8, a FEE divulgou a terceira edição do Panorama Internacional FEE com o tema “Migrações: paradoxos do mundo globalizado”. A publicação é trimestral e pode ser acessada em português e inglês. As análises em destaque tratam dos trabalhadores imigrantes e da guerra civil síria.

O Diretor Técnico da FEE, Martinho Lazzari, enfatizou a importância de analisar as migrações internacionais, um dos temas mais importantes da atualidade. Para o pesquisador em Relações Internacionais Robson Valdez, as migrações globais são um constante desafio para a comunidade internacional e a complexidade da questão é de extrema relevância para o entendimento de outros fenômenos históricos, políticos, econômicos e sociais.

Panorama

Da esquerda para direita, Iracema Castelo Branco, Ricardo Leães, Bruno Jubran, Martinho Lazzari, Robson Valdez

A análise da pesquisadora em Economia da FEE Iracema Castelo Branco trata dos novos trabalhadores imigrantes. Ela aponta que o processo de reestruturação do mercado de trabalho brasileiro, a partir de 2004, com a geração de empregos formais, passou a atrair estrangeiros. “O Brasil, que já exportou muitos trabalhadores em busca do ‘sonho americano’, mais recentemente passou a representar o ‘sonho brasileiro’ para muitos imigrantes, principalmente haitianos. A análise das autorizações de estrangeiros para trabalhar no Brasil revelou esse novo fluxo migratório, que é visivelmente crescente nos últimos anos”, analisa Iracema. “O fluxo de haitianos para o Brasil iniciou-se após o terremoto de 2010 e intensificou-se depois da Resolução Normativa nº 97, de 12 de janeiro de 2012, que dispõe sobre a concessão de visto permanente por razões humanitárias para nacionais do Haiti”, explica. De acordo com a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), o Haiti possui, desde 2013, o maior contingente de trabalhadores formais no Brasil.

Em relação ao contingente de trabalhadores imigrantes no Rio Grande do Sul, a análise revela que, de 2010 a 2014, o Estado teve crescimento de mais de 200%, empregando 9% dos imigrantes em 2014. “As principais nacionalidades, em 2014, eram haitianos, uruguaios e argentinos. Esses imigrantes eram homens (73,5%), jovens com até 39 anos de idade (70,1%) e com baixo nível de escolaridade (81,3% até ensino médio completo)”, pontua o estudo. Iracema Castelo Branco avalia que, após dez anos com indicadores favoráveis, o Brasil vem registrando desde 2015 a deterioração do mercado de trabalho, diante da recessão econômica. “Isso torna ainda mais difícil a vida de quem deixou o seu país em busca do ‘sonho brasileiro’ e, ainda, prejudica a integração desses imigrantes ao convívio social. Entretanto é necessário compreender que o Brasil está diante da transição demográfica, e o RS é um dos estados em estágio mais avançado. Isso significa que, em poucos anos, haverá mais idosos do que jovens na população em idade ativa para o trabalho, e a chegada desses imigrantes, na maioria jovem, pode amenizar esse fenômeno demográfico”, aponta. “Para isso, faz-se necessária uma política de integração desses estrangeiros à sociedade brasileira, aproveitando seus conhecimentos e suas capacitações para o desenvolvimento do Brasil, além de o País voltar a crescer e a gerar empregos”.

Outro tema desta edição é a crise humanitária na Síria, assunto em destaque na agenda internacional, dado o imenso contingente de sírios que abandonaram seus lares por causa da guerra civil que assola o País desde 2011. Os pesquisadores em Relações Internacionais da FEE Bruno Jubran e Ricardo Leães debatem o discurso predominante sobre a guerra civil síria como fator agravante no problema dos refugiados. “De maneira geral, afirma-se que a crise humanitária foi desencadeada pela repressão de Bashar al-Assad, o qual nunca se mostrou realmente disposto a dialogar com a oposição. Essa perspectiva, embora empiricamente verdadeira, não dá conta da extensão do fenômeno, que se apresenta mais multifacetado do que aparenta ser”, ponderam.

Ricardo Leães pontua que a irredutível postura dos Estados Unidos foi determinante para a continuação do conflito na Síria. “Os países que tratam a queda de Assad como o objetivo prioritário para a Síria não apenas falharam em promover a democracia, mas robusteceram os movimentos fundamentalistas e intensificaram a pressão para que sírios tivessem de deixar seu País”, analisa. Bruno Jubran acrescenta que a inexistência de uma alternativa democrática viável ao governo de Assad aumenta os obstáculos para a estabilidade na Síria e prejudica a população, que se vê com poucas possibilidades a não ser engrossar o contingente de refugiados. “Assim como sucedeu no Iraque e na Líbia, a Síria mostra que o confronto com os governos locais não tem fomentado uma solução democrática, mas, sim, gerado um vácuo de poder que é rapidamente preenchido por fundamentalistas”, pontua Bruno.

Confira as fotos da divulgação e os demais textos da edição:

Editorial – Migrações globais: um constante desafio para a comunidade internacional – Robson Valdez

Migração internacional contemporânea: principais processos – Jaime Fialkow

Percepção sobre a imigração estrangeira no Rio Grande do Sul: três momentos históricos – Alvaro Klafke

Migrações Internacionais e seus fluxos de contradições – Entrevista com Deisy Ventura, Professora de Direito Internacional e Livre-Docente do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP).

Os textos podem ser acessados individualmente e também está disponível aqui a publicação na íntegra em pdf.

Gisele Reginato – Jornalista