Compromisso, qualidade e cooperação institucional marcam os 25 anos da PED: especialistas defendem a continuidade de uma das pesquisas regionais mais longevas do país

Pesquisadores, autoridades e especialistas de diferentes instituições se reuniram nesta segunda-feira, 19, para a Jornada de debates que marca o início das comemorações dos 25 anos da pesquisa de Emprego e Desemprego (PED-RMPA), executada em parceria pela FEE, DIEESE e FGTAS. Martinho Lazzari, Diretor Técnico da FEE, destacou o compromisso público institucional de manter a pesquisa. “Estamos com a FEE mais viva do que nunca”, destacou. O Presidente da FGTAS, Gilberto Baldasso, ponderou que todos os parceiros precisam se empenhar para garantir a continuidade dos trabalhos. “Precisamos estar muito unidos para conseguir os recursos junto ao Ministério do Trabalho. Em nome do Governo do Estado quero dizer que vamos fazer todo o necessário para que a pesquisa continue, porque ela nos dá credibilidade”. Já o Diretor Técnico do DIEESE nacional, Clemente Ganz Lucio, lembrou da relevância do formato de cooperação que a PED afirma. “O sentido dessa pesquisa é criar capacidade institucional no Estado brasileiro de produzir pesquisa com qualidade técnica, incrementando a cooperação. A cerimônia de hoje mostra que estávamos certos no modo de olhar a dinâmica econômica e a realidade social, a pesquisa é o instrumento para isso”, destacou.

(E) Clemente Ganz Lúcio (DIEESE), Martinho Lazzari (FEE), Gilberto Baldasso (FGTAS)

“Temos sempre novas perguntas, que justificam mais 25 anos de pesquisa”, destaca Lúcia Garcia

O debate sobre os 25 anos da PED contou com as presenças da economista do DIEESE  Lúcia Garcia, Coordenadora Nacional da PED, do economista Carlos Henrique Horn, Diretor da Faculdade de Economia e  professor do PPGE (Programa de Pós-Graduação em Economia) da UFRGS e da ex-reitora da UFRGS e ex-presidente da FEE, professora Wrana Panizzi.

(E) Wrana Panizzi (UFRGS), Lúcia Garcia (DIEESE) e Carlos Henrique Horn (UFRGS)

Lúcia destacou que não é nada trivial uma pesquisa no Brasil ultrapassar 25 anos. Menos trivial ainda, segundo a economista, é uma pesquisa realizada por diversas instituições, de diferentes esferas. “Não temos notícia de tamanha ousadia. São 30 mil domicílios por ano, 9 mil indivíduos por mês, por 25 anos. Com a relevância do fator regional, o que a torna mais grandiosa. Estamos falando aqui de um canto do mundo, mas os dados aqui produzidos são válidos para qualquer discussão do cenário nacional. Trata-se de um sistema descentralizado de produção de dados. Esse processo do regional contribuir para a compreensão da totalidade é importante, porque temos mais harmonia, maior construção de conhecimento e de uma visão de nação” ”, avalia.  Lúcia destaca ainda que a pesquisa constantemente se renova. “Nós temos sempre novas perguntas sobre a inserção produtiva dos trabalhadores , são perguntas e atualizações que justificam mais 25 anos de pesquisa”, garante.  A economista apresentou alguns dados que permitem refletir sobre as questões mais preocupantes para as políticas de públicas  de emprego e destacou que isso é possível fazer porque temos um monitoramento contínuo, ininterrupto, expressivo, nestes últimos 25 anos. “Olhando os gráficos desde 1992 quando a pesquisa foi criada, até a atualidade, podemos perceber que perdemos ocupação com muita facilidade nas crises e recuperamos ocupação com enorme dificuldade na expansão. Nós temos um grave problema, é muito difícil gerar emprego na RMPA. Por isso que não devemos só monitorar essa condição, mas temos que entender porque a estrutura produtiva da RMPA tem tanta dificuldade de reação. E nisso, os estudos da FEE são fundamentais”, apontou Lúcia.  Para a economista, outro fator também é preocupante no cenário do mercado de trabalho da Região, o nível de rendimento está enclausurado a um mesmo patamar nestas últimas décadas. “Nosso patamar de renda é o mesmo desde 1993. Somos uma região de remuneração  extremamente baixa, que nos últimos dois anos perdeu 14%”. Em função dessas características, dificuldade em gerar emprego e baixa remuneração, Lúcia entende que não há nada de alvissareiro para o futuro: “não ter esperanças infundadas parece ser um bom planejamento”, afirma. “Temos uma massa de rendimentos que caiu muito, o que mostra que o ajuste do mercado já foi feito. E temos dificuldades para recompor a ocupação”, reitera.

O professor Carlos Henrique Horn abordou a importância de manter a produção pública de dados, indicadores e estatísticas, como modo de capturar realidades complexas, ganhar aprendizado institucional e manter a racionalidade nas disputas cada vez mais fundamentais para o desenvolvimento. “A PED nasce não apenas para medir, mas para buscar apreender um mercado de trabalho cuja estrutura já era muito complexa e que na atualidade tem o grau de dificuldade intensificado. Para isso, desenvolve um sistema formidável, o que gera aprendizado institucional e cooperação que não podem ser postos de lado. O RS foi vanguardista na construção do estado moderno e agora, diante da crise fiscal, parece querer fazer o caminho inverso, voltar para antes de 1889 e vingar-se dos republicanos”, enfatizou  Horn ao defender a permanência da FEE e da PED. Outro aspecto destacado pelo professor foi a necessária valorização dos dados e das estatísticas independentes . “Há uma certa quadratura no ambiente público em que a estatística é vista com desconfiança, como se tornasse tudo mais complexo para ocultar e não para trazer luz. Nesse contexto, a PED apenas reafirma sua importância. Manter a PED, manter os sistemas estatísticos públicos  é absolutamente fundamental para a luta entre a racionalidade, a verdade factual e esta época da pós-verdade e da política irresponsável”, afirmou.

A ex-reitora da UFRGS, professora Wrana Panizzi,  fez questão de recordar sua passagem como presidente da FEE e a implementação da pesquisa na época. “Venho aqui como alguém que milita pela preservação das instituições como a FEE”, declarou. Segundo Wrana, a FEE sempre foi uma referência pela qualidade e pela resistência. “Porque aqui sempre passaram servidores públicos comprometidos com a cidadania. A FEE sempre se manteve pela teimosia. E assim segue hoje, teimando, reafirmando compromissos, mostrando este trabalho de qualidade e importância”, destacou.  Mais do que ressaltar dados técnicos, Wrana diz que  pretendeu ser uma voz de defesa institucional, por motivos sociais, acadêmicos e científicos. “É hora de falar. Diante do silêncio ensurdecedor não podemos ficar calados. Venho aqui pra dizer muito obrigada à FEE. Aprendi muito com vocês. A sociedade aprendeu muito. Vida longa à FEE”.

 

Sandra Bitencourt- Jornalista