Agenda global das mudanças climáticas: realidade e utopias

A Fundação de Economia e Estatística (FEE) promoveu, nesta quarta-feira (4), o painel de debates Agenda Global das mudanças climáticas: realidade e desafios. Trata-se de um evento que complementa o lançamento da 9ª edição do Panorama Internacional FEE, também voltado para a agenda global das mudanças climáticas e a situação ambiental no Rio Grande do Sul.

Como debatedores, Francisco Eliseu Aquino, professor e pesquisador do Centro Polar e Climático, do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Mariana Lisboa Pessoa, Geógrafa pesquisadora da FEE. A mediação ficou a cargo do internacionalista da FEE Ricardo Leães. Para Leães, eventos como este “são uma oportunidade de debates sobre as transformações globais na agenda climática, sobretudo em função da recente saída dos Estados Unidos do acordo de Paris”.

“Há aumento de tempestades, de precipitações, de estiagens e de eventos severos no Rio Grande do Sul e a perspectiva para a próxima década é que o quadro se agrave“, avalia Francisco Eliseu Aquino. Com a temperatura do RS um grau acima da média histórica e com uma região geográfica propícia a eventos naturais, a tendência, para o pesquisador da UFRGS, é de aumento de eventos severos, como desastres hidrológicos e meteorológicos, por exemplo. Atualmente, um terço das tempestades severas mundiais acontece no Sul do Brasil.

Embora o RS possua uma grande disponibilidade hídrica, com densidade de cursos e corpos d’água e importantes reservatórios subterrâneos, “as bacias da Região Sul apresentam situações críticas tanto pela baixa qualidade das águas como pela grande demanda, ambas relacionadas, dentre outras coisas, com o alto grau de urbanização e industrialização”, salienta Mariana Pessoa, geógrafa da FEE. A pesquisadora salienta que o Estado coleta apenas 54% do esgoto gerado e trata 26%, abrigando, por isso, três dos 10 rios mais poluídos do País: Sinos, Gravataí e Caí — todos localizados na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), abastecendo mais de 1,5 milhões de pessoas. Ainda na RMPA, os municípios de Canoas e Gravataí figuram entre os 20 piores do Brasil no ranking do saneamento, que analisa a situação dos 100 municípios mais populosos do País.

A agropecuária, setor que corresponde a cerca de 10% do Produto Interno Bruto do RS, é a maior responsável pela diminuição da disponibilidade hídrica quantitativa, uma vez que a maior demanda por água doce do Estado é para atividades de irrigação, consumindo cerca de 78% do total de água utilizada. Além disso, o RS usa quase o dobro da quantidade de agrotóxico nas lavouras, se comparado com a média anual brasileira: 8,3 litros por habitante contra 4,5 l/hab. “O excesso de agrotóxico contamina o solo, as águas subterrâneas e os mananciais do entorno, uma vez que a chuva drena o solo e carrega esses poluentes, afetando não apenas a qualidade dessas águas, mas todo o ecossistema do local”, sinaliza Mariana Pessoa.

Para a pesquisadora, já que os limites das bacias hidrográficas extrapolam os limites políticos das regiões/países e considerando-se que políticas de preservação e revitalização dos recursos hídricos ultrapassam qualquer mandato de quatro anos, fazem-se necessárias políticas de estado, ao invés de políticas de governo para enfrentar o desafio de recursos hídricos.

Para saber mais sobre os instrumentos e órgãos de gerenciamento dos recursos hídricos e de outras questões sobre mudanças climáticas e a situação ambiental no Brasil e no Rio Grande do Sul, acesse o Panorama Internacional FEE

Anelise Rublescki – Jornalista FEE