Preços voltam a crescer em 2016, mas exportações gaúchas recuam em valor e volume

Mesmo com preços voltando a crescer após dois anos, receita auferida segue em queda pelo terceiro ano consecutivo e atinge o menor patamar desde 2010

Em 2016, as exportações do Rio Grande do Sul totalizaram US$ 16,578 bilhões, uma redução de US$ 939,9 milhões (-5,4%) em relação a 2015. A retração das receitas ocorreu a despeito do crescimento de 2,5% nos preços médios dos produtos exportados, sendo ocasionada pela queda de 7,6% no volume embarcado ao exterior. Mesmo assim, enquanto o valor auferido em 2016 foi o menor desde 2010, o volume embarcado para o exterior (21,674 milhões de toneladas) foi o segundo maior da história, atrás apenas do de 2015. O resultado coloca o Estado como o quarto maior exportador nacional (8,9%) — uma colocação abaixo de 2015 (9,2%) — atrás de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

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A redução do volume exportado pelo Rio Grande do Sul insere-se no contexto de um menor crescimento do produto e do comércio globais em 2016 e de elevação de práticas protecionistas. Ainda sem os dados consolidados, 2016 deverá ser o ano com o ritmo mais lento de crescimento do comércio mundial (e da atividade econômica global) desde o auge da crise financeira internacional, em 2009. Adicionalmente, o comércio, que cresceu o dobro da taxa da atividade econômica desde os anos 80 até a crise financeira de 2009, desacelerou-se pela metade no período recente, com possibilidade de crescer menos que o produto em 2016, algo com que não ocorre há 15 anos.

O destaque positivo das exportações foi a evolução dos preços dos produtos vendidos. Os preços, que começaram a se retrair desde o final de 2012 e, com maior intensidade, desde o final de 2014, iniciaram uma recuperação gradual ao longo de 2016. Esse movimento foi influenciado pela recuperação, mesmo que incipiente, dos preços dos produtos básicos, na esteira da recuperação pontual nos preços internacionais de algumas commodities importantes para o Estado, como a soja em grão e o fumo em folhas.

Os principais produtos exportados pelo Rio Grande do Sul em 2016 — que são os mesmos de 2015 — foram: soja em grão (22,8% da pauta exportadora), fumo em folhas (9,6%), carne de frango (6,3%), polímeros plásticos (6,1%) e farelo de soja (5,3%). A venda desses cinco produtos representou metade de toda a receita exportadora gaúcha. Houve recorde no volume exportado de celulose, de polímeros plásticos e de outros 62 produtos de menor participação na pauta gaúcha. Ademais, em termos de valor exportado, houve recorde em 35 produtos, com destaque, novamente, para a celulose.

A retração de 1,125 milhão de toneladas (-10,6%) nas vendas de soja em grão para o exterior foi a que mais impactou negativamente o volume embarcado do Rio Grande do Sul. Apenas para a China, principal destino do grão, as vendas recuaram em 1,138 milhão de toneladas (-12,1%). Outros produtos também afetaram negativamente o volume embarcado pelo Estado, como o trigo (-64,9%, com recuo nas vendas para Tailândia, Filipinas e Vietnã), o arroz (-27,8%, com redução das vendas para Cuba), o farelo de soja (-6,7%, com reduções nas vendas para Coreia do Sul, Holanda e Vietnã) e o leite em pó (-62,3%, pela retração nas vendas para Venezuela). Por outro lado, o principal produto que contribuiu para o crescimento do volume embarcado gaúcho foi a celulose (de 663,7 mil toneladas para 1,452 milhão de toneladas), ainda na esteira da ampliação da capacidade produtiva da fábrica em Guaíba, principalmente pelo crescimento das vendas para China (103,8%). Outros produtos também se destacaram positivamente nesse quesito: calçados (incremento de 8,227 milhões de pares vendidos), polímeros plásticos (11,0%), automóveis de passageiros (incremento de 12.646 unidades exportadas) e carne suína (22,3%).

Analisando as exportações por fator agregado, a venda de produtos básicos continua representando a maioria das exportações gaúchas (51,6%), enquanto os produtos industrializados (semimanufaturados e manufaturados) totalizaram 47,7%. Da redução total de US$ 939,9 milhões em 2016 no comparativo com 2015, as vendas de produtos básicos recuaram US$ 760,4 milhões (-8,2%), e as de produtos manufaturados, US$ 313,9 milhões (-4,7%); por seu turno, as vendas de semimanufaturados cresceram US$ 222,0 milhões (16,8%). Mesmo com a redução de valor, o volume embarcado de manufaturados elevou-se em 2,5%. Já o volume de semimanufaturados cresceu 47,4%, e o de básicos retraiu em 15,4%.

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Os principais produtos que contribuíram para a redução das vendas de produtos básicos foram: soja em grão (US$ -321,5 milhões), trigo em grão (US$ -219,1 milhões), arroz em grão (US$ -101,6 milhões), farelo de soja (US$ -94,0 milhões) e carne de frango (US$ -92,4 milhões). Já os maiores crescimentos no valor exportado foram observados nas vendas de fumo em folhas (US$ 54,8 milhões), carne suína (US$ 26,6 milhões) e bovinos vivos (US$ 24,9 milhões).

Já em relação aos semimanufaturados, a venda de celulose cresceu 93,8% em valor (US$ 286,6 milhões) e 118,8% em volume, passando de 1,7% em 2015 para 3,6% de toda a pauta exportadora gaúcha em 2016. Por outro lado, as vendas de couros e peles recuaram 12,8% em valor (US$ -62,6 milhões) e 8,6% em volume.

Quanto aos manufaturados, os maiores recuos em valor foram observados nas vendas de leite em pó (US$ -54,7 milhões), éteres alcóolicos (US$ -54,5 milhões), gasolina (US$ -43,0 milhões) e polímeros plásticos (US$ -42,9 milhões). Os maiores crescimentos, por sua vez, vieram das vendas de automóveis de passageiros (US$ 109,2 milhões; 46,0%) e calçados (US$ 66,0 milhões; 17,8%).

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Os principais destinos das exportações gaúchas foram: China (26,1%), Argentina (7,9%), Estados Unidos (7,4%), Holanda (3,7%) e Bélgica (3,0%), com esses dois últimos países servindo de porta de entrada das mercadorias gaúchas para a União Europeia como um todo. Com exceção da China (que caiu de 27,8% em 2015 para 26,1% em 2016), os outros quatro principais mercados de destino incrementaram sua participação nas importações de produtos do Rio Grande do Sul.
As maiores variações positivas de valor foram observadas para o Irã (US$ 251,9 milhões; 188,8% em valor e 170,8% em volume), nas compras de soja em grão e farelo de soja; para a Holanda (US$ 194,4 milhões; 45,6% em valor e -56,1% em volume), pela venda ficta do casco da plataforma de petróleo e gás P-68, no mês de novembro, por US$ 388,9 milhões; e para o Paquistão (US$ 106,2 milhões; 840,6% em valor e 3.300,1% em volume), pela importação de soja em grão. Por seu turno, as maiores variações negativas de valor foram registradas para a China (US$ -540,3 milhões; -11,1% em valor e -4,8% em volume), por conta da venda, em 2015, do casco da plataforma P-67 por US$ 394,2 milhões e do recuo das compras de soja em grãos; para o Vietnã (US$ -261,7 milhões; -58,8% em valor e -64,3% em volume), pela redução das importações de grãos como a soja, o trigo e o milho, além do farelo de soja; e para a Venezuela (US$ -256,7 milhões; -58,4% em valor e -47,6% em volume), sobretudo, pelas reduções nas compras de carne de frango, leite em pó e tratores.