Emprego formal celetista e exportações em 2015

A Fundação de Economia e Estatística está divulgando pela primeira vez as estatísticas do emprego formal celetista e das exportações do agronegócio do Brasil e do Rio Grande do Sul. A produção dessas estatísticas foi viabilizada a partir do desenvolvimento de metodologias próprias, detalhadas nas notas metodológicas.

Para o adequado dimensionamento do agronegócio, é necessário ter clareza sobre o alcance dessa definição. Enquanto a agropecuária constitui parte do Setor Primário da economia, o agronegócio — de base empresarial ou familiar — é mais abrangente. Além da agropecuária, compõem o agronegócio

a) as atividades de produção de insumos e de bens de capital (fertilizantes, defensivos, máquinas agrícolas);

b) as atividades da indústria de transformação que se utilizam de matéria-prima agropecuária (alimentos, biocombustíveis, fumo);

c) as atividades especializadas na oferta de serviços agropecuários e na armazenagem e distribuição dos produtos do agronegócio.

Resumidamente, o agronegócio pode ser definido como a junção das atividades agropecuárias (segmento “dentro da porteira”) e interdependentes a montante (segmento “antes da porteira”) e a jusante (segmento “depois da porteira”), como já abordado aqui.

Em seguida, são apresentados os resultados das estatísticas de emprego formal celetista e das exportações do agronegócio referentes ao Rio Grande do Sul no ano de 2015.[1]

Emprego formal do agronegócio

Em 2015, o saldo do emprego formal celetista no agronegócio, medido pela diferença entre trabalhadores admitidos e desligados, foi negativo no Rio Grande do Sul. No ano, houve uma perda de 3.983 postos de trabalho. Como resultado desse movimento, estima-se que o estoque de empregos formais celetistas no agronegócio gaúcho tenha decrescido 1,2% no último ano.[2]

Figura1

Em 2015, o agronegócio participou com cerca de 12% do emprego formal celetista total do Estado. Apesar da queda, o Rio Grande do Sul manteve a 4.ª posição no ranking nacional das unidades da Federação com mais empregos no setor (7,5% do total).

A maior parcela dos empregos do agronegócio gaúcho está situada no segmento “depois da porteira” (61,2%), que registrou queda de 0,6% em 2015 (-1.232 postos de trabalho). Os setores com maior saldo negativo nesse segmento foram os de fabricação de produtos intermediários de madeira (-816 empregos), fabricação de conservas (-767 empregos) e curtimento e preparações de couro (-490 empregos). Na contramão da crise, o destaque positivo foi o setor de abate e fabricação de produtos da carne, cujo estoque de emprego cresceu 1,6% em 2015 (941 postos de trabalho).

Figura2

A maior perda de postos de trabalho em 2015 ocorreu no segmento “antes da porteira”, responsável por 12,7% do emprego formal celetista do agronegócio gaúcho. Depois de acumular queda de 5,6% em 2014, o nível de emprego do segmento voltou a cair (-8,5%). O setor que mais contribuiu para esse resultado foi o de fabricação de tratores, máquinas e equipamentos agropecuários, que fechou 4.742 postos de trabalho em 2015.

O núcleo, ou segmento “dentro da porteira”, que responde pelos 26,2% restantes do emprego formal celetista do agronegócio, foi o único com saldo positivo no Rio Grande do Sul em 2015 (944 empregos). Portanto, o crescimento da produção agropecuária na safra 2014/2015 foi acompanhado da ampliação do número de postos de trabalho. Os setores agropecuários com maior saldo positivo no ano foram, respectivamente, o de apoio à agropecuária e à produção florestal (797 postos de trabalho) e o da pecuária (790 postos de trabalho). Na agropecuária, o setor lavouras permanentes foi o único com queda expressiva no emprego (-1.031 postos de trabalho).

Figura3

Em se tratando da participação setorial no total de empregos formais celetistas do setor, em 2015 se destacaram no Rio Grande do Sul: no segmento “dentro da porteira”, a produção de lavouras temporárias (10,4%) e a pecuária (7,9%); no segmento “depois da porteira”, o abate e fabricação de produtos de carne (18,7%) e o comércio atacadista de produtos agropecuários e agroindustriais (12,3%); e, no segmento “antes da porteira”, a fabricação de tratores, máquinas e equipamentos agropecuários (7,5%).

Figura4

Em termos regionais, a distribuição do emprego é desigual e reflete a especialização produtiva e as características fundiárias do território gaúcho. A mesorregião Noroeste é a que concentra a maior parte dos empregos do setor (28,0%), seguida da Metropolitana de Porto Alegre (24,3%). A mesorregião Noroeste destaca-se nos três segmentos, notadamente por sua participação no segmento “antes da porteira” (57%). Já as mesorregiões Metropolitana de Porto Alegre e Sudoeste abrigam, respectivamente, o maior contingente de empregados nos segmentos “depois” e “dentro” da porteira (28,7% e 23,2%). Em 2015, o saldo entre admitidos e desligados foi negativo em cinco das sete mesorregiões rio-grandenses. Em termos absolutos, o pior desempenho foi observado na mesorregião Noroeste (-2.434 postos de trabalho), reflexo, sobretudo, da desaceleração da indústria de máquinas e implementos agrícolas. Em termos relativos, a maior queda ocorreu na mesorregião Sudeste (-2,8%), resultado da perda de empregos no setor de fabricação de conservas (-756 empregos).

Na lista dos 10 municípios gaúchos que mais perderam postos de trabalho no agronegócio em 2015, seis são conhecidos por sua especialização na produção de máquinas e equipamentos agropecuários e estão situados na mesorregião Noroeste (Panambi, Marau, Santa Rosa, Passo Fundo, Não-Me-Toque e Ibirubá). O resultado de Vacaria é explicado pelo desempenho do setor de Lavouras Permanentes (sobretudo, a cultura da maçã), e o de Pelotas, pela já relatada perda de empregos no setor de fabricação de conservas.

Figura5

Entre os municípios com maior saldo positivo no emprego, destaca-se Seberi, com um aumento expressivo nos postos de trabalho na atividade de fabricação de alimentos para animais. O resultado positivo no emprego dos Municípios de Barra do Ribeiro e Guaíba deriva, sobretudo, da abertura de postos de trabalho nas atividades de produção florestal e fabricação de celulose e papel.

Figura6

 Exportações do agronegócio

Em 2015, as exportações gaúchas do agronegócio totalizaram US$ 11,6 bilhões, valor que representa 66,6% das exportações totais do Estado.

Figura7

Comparativamente ao ano de 2014, observou-se uma queda de 6,1% no valor exportado. Esse resultado foi determinado, sobretudo, pela queda nos preços internacionais, haja vista que, em volume, as exportações gaúchas do agronegócio continuaram crescendo em 2015. Vale destacar ainda que a queda no valor exportado em dólares não se traduziu em redução nas receitas de exportação valoradas em moeda nacional. Isso porque, ao longo do ano, a apreciação do dólar frente ao real foi superior à redução no valor exportado.

Os principais setores de produtos responsáveis pela queda nas exportações do agronegócio foram máquinas e implementos agrícolas (-40,6%), carnes (-11,6%) e fumo e seus produtos (-15,5%). Entre os setores que apresentaram crescimento no valor exportado, destacam-se os produtos florestais (70,9%) e os lácteos (133,3%).

A maior parcela do valor exportado pelo agronegócio gaúcho é composta de mercadorias do macrossetor produtos de origem vegetal (72,6%), seguida do macrossetor produtos de origem animal (23,1%) e insumos, máquinas e equipamentos de uso agropecuário (4,2%). No acumulado do ano de 2015, analisando o desempenho desses três macrossetores, observa-se que a queda no valor exportado foi generalizada. A maior retração ocorreu nas vendas de insumos, máquinas e equipamentos de uso agropecuário (-31,5%), seguida dos produtos de origem animal (-10,5%).

Figura8

Entre os insumos, máquinas e equipamentos de uso agropecuário, a principal queda nas exportações gaúchas ocorreu no setor de máquinas e implementos agrícolas (-40,6%). No último ano, o valor das vendas do grupo de colheitadeiras e de semeadeiras e plantadeiras recuou, respectivamente, 63,8% e 60,4%. O Paraguai respondeu por mais de 40% da queda nas exportações de máquinas e implementos agrícolas em 2015. Merecem destaque também as retrações nas vendas de máquinas e implementos agrícolas para o Uruguai (-67,7%) e para a Argentina (-62,7%).

Figura9

O macrossetor produtos de origem animal foi o que mais contribuiu para a queda nas exportações do agronegócio gaúcho em 2015. O maior recuo ocorreu nas vendas externas de carne de frango (-11,3%), seguidas das de couros e peles (-18,3%). Para as exportações de carne de frango, o principal vetor de queda foram os preços médios contratados, que caíram 9,2% em relação a 2014. Já para os couros e peles, além de uma diminuição dos preços médios (-9,2%), houve uma significativa redução do volume embarcado (-10,0%).  Contrariando o movimento geral das exportações, ressalta-se a expressiva elevação das vendas externas do setor de produtos lácteos (133,4%), impulsionado majoritariamente pelo maior volume das remessas de leite em pó para a Venezuela (alta de 196,3%).

Figura10

O macrossetor produtos de origem vegetal apresentou a menor queda em valor        (-2,4%). Contribuiu para esse resultado a grande elevação das exportações do setor de produtos florestais, principalmente as exportações de celulose (136,1%). A ampliação da capacidade produtiva da empresa Celulose Riograndense, em Guaíba, é a principal razão para esse movimento. Já o valor das exportações de fumo e seus produtos se retraiu significativamente (-15,5%), apesar do crescimento no volume embarcado (7,3%).  Em um ano marcado pela queda nos preços internacionais das commodities agrícolas, a expressiva expansão da safra agrícola gaúcha foi fundamental para a elevação nos embarques de soja em grão (2,7%) e de trigo (217,7%), o que colaborou para que a queda nos valores exportados não fosse maior.

Figura11

No que se refere aos destinos, a China permanece como o principal comprador das mercadorias do agronegócio gaúcho (US$ 4,2 bilhões em 2015). Em relação ao ano de 2014, apesar da pequena redução no valor exportado para a China (-0,1%), verificou-se a continuidade da elevação da sua participação nas vendas externas do Estado. O market share chinês passou de 34,3% em 2014 para 36,5% em 2015.

Figura12

As exportações para o Vietnã apresentaram um crescimento de 39,8% em valor no ano de 2015. Impulsionado pelas compras de soja e trigo, o país do sudeste asiático saltou do 9.° lugar em 2014 para o 2.° no ranking dos principais destinos das vendas externas no agronegócio gaúcho. Em 2015, o terceiro principal destino das exportações foi a Coréia do Sul, com US$ 419 milhões, o que representou uma elevação de 17,4% em comparação ao ano anterior.

Em relação ao dinamismo das exportações, os principais destaques positivos de 2015 foram: Vietnã (US$ 438,4 milhões; 39,8%), Arábia Saudita (US$ 317,7 milhões; 36,3%), Eslovênia (US$ 295,1; 36,6%), Bangladesh (US$ 88,8 milhões; 294,5%), Coreia do Sul      (US$ 419,4 milhões; 17,4%) e Espanha (US$ 211,6 milhões; 20,4%). Quanto aos países que reduziram o valor das aquisições de mercadorias do agronegócio gaúcho, destacaram-se em 2015: Paraguai (US$ 168,5 milhões; -46,8%), Alemanha (US$ 180,5 milhões; -39,2%), França (US$ 94,7 milhões; -46,2%), Holanda (US$ 282,5; -22,2%), Angola (US$ 63,9 milhões; -55,8%) e Indonésia (US$ 80,1 milhões; -49,2%).


 

[1]  O principal interesse na análise recai sobre a variação no estoque de postos de trabalho do agronegócio gaúcho. Ao longo do texto, como recurso de simplificação, faz-se referência aos empregos “perdidos” ou “criados” no período. Cabe ressaltar, no entanto, que essa não é uma formulação rigorosa, pois está-se considerando o saldo líquido e não todos os novos postos.

[2]  A FEE calcula as estatísticas do agronegócio nas versões restrita e ampla. A descrição e análise dos resultados apresentados na sequência referem-se à versão restrita do agronegócio. Para mais detalhes, ver as notas metodológicas.